Eu, você e eles: loucos.

- Amor, disse ele, quero ser sincero com você: tenho transtorno bipolar. Espero que você me entenda e diga se está disposta a enfrentar todos os problemas pelos quais provavelmente passaremos.

- Amor, disse ela, o fato é que não posso lhe prometer nada. Não sei se sou forte o suficiente para agüentar todas as suas crises de mania e/depressão. Mas posso tentar. Além disso, não acredito na “normalidade” das pessoas.

Desde cedo acostumei com normalidades fronteiriças. Em minha família cada um tem sua própria moral, verdade, teoria e visão dos fatos. É impossível buscar certezas. Às vezes fatos são negados de forma tão veemente que os certos acreditam que estão errados e os errados acreditam que estão certos. Talvez isso tenha forjado a minha personalidade e me dado força para prosseguir mesmo quando todos dizem que estou errada ou que é muito difícil.

Namorei homens magoados, com toques de sadismo e que apesar de terem todos os ingredientes necessários para o sucesso, mergulhavam em uma melancolia sem propósito, como se a vida lhes devessem alguma coisa. Outros completamente despreparados para a idade adulta acreditavam que a entidade superior dos cristãos lhes daria tudo, simplesmente porque haviam nascido. Ou eram incapazes de assumir qualquer responsabilidade, já que a busca incessante pelo prazer os impedia de sair da infância. Conheci homens bem sucedidos, que se perdiam em sua ganância e entravam em depressão profunda, simplesmente por não terem alcançado um de seus objetivos. Outros carinhosos, mas controladores, possessivos e inseguros. Quando não conjugavam um pouco de tudo.

- “De perto ninguém é nomal” – concluiu ele.

- Sim, é a mais pura verdade. Tenho medo, é um fato, mas sigamos, amemos e sejamos felizes enquanto possível.

LUCILA GRACINDA
Enviado por LUCILA GRACINDA em 10/01/2011
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