REFLEXÃO
PARA NÃO MORRER DE AMOR
De todas as vezes em que ouvi dizer, e de tudo que li relatando à exaustão o cansaço que toma um corpo destruído pela inconformação com a ausência, com a despedida, com o sentimento de luto pela perda do objeto do desejo, uma foi capaz de me impressionar ao ponto em que seja possível perder a fala, não ter absolutamente opinião ou consolo para tanto.
Há muito tempo venho tentando encontrar uma forma de dizer a mim mesma como é que é possível uma pessoa sair de órbita, esvair-se, morrer por tanto amar.
É certo que continuo no holocausto da pena pelo sofrimento de saber-se o homem incapaz de nada poder fazer para, de alguma forma, ajudar um amigo a recuperar sua estima, ao vê-lo em decadência no estado mórbido da paixão.
As paixões são belas enquanto literatura e enquanto seja motivo de felicidade. Na prática do desamor, porém, talvez a dor da paixão seja a mais doída dos Seres.
As paixões levam o indivíduo à anulação de si mesmo, levam à perda dos mais íntimos valores, valores esses dos quais não podemos abrir mão na luta por uma sobrevivência sadia, e pretendo, neste momento, relatar um fato ocorrido há algum tempo – tão impressionante, porém, que ainda sinto arrepios quando me vem à lembrança.
Tive uma amiga, amiga mesmo, daquelas do peito, daquelas verdadeiras, daquelas de todas as horas, tive uma amiga que após alguns anos de convivência com seu companheiro, certa época essa minha amiga confidenciou-me que sentia seu companheiro distante e isso muito a atormentava, considerando que sempre viveram em plena e bela harmonia, já com uma filha de 15 anos.
Entraram naquela de discutir a relação, e a nada se chegava que justificasse o caos que dominava o casamento.
Eles apenas foram ficando tristes, ausentes. Era o fim da cumplicidade.
E foi assim que ele lhe disse que só havia uma explicação : o amor havia acabado e ele gostaria de sair de casa, pois assim julgava mais correto.
Foi embora para a casa dos seus pais, no primeiro momento.
Em dois meses minha amiga foi definhando pelo permanente estado de tristeza que a dominou e adoeceu.
Certa manhã recebi um telefonema de alguém do nosso círculo de amizades que me disse:
- Miriam, venha.
Alzirinha faleceu.
- E do que foi?
- De nada.
Causa mortis desconhecida.
Estamos velando seu corpo.
Naquele dia decidi que, a quem quer partir, cabe-nos dar Adeus com os dedos abertos e a mão direita leve, bailando ao vento.
Cabe-nos um olhar para dentro de nós, dos nossos valores escondidos pelo execesso de amor ao outro, porque desapegar-se é vital aos nossos sentidos de sobrevivência.
Faz bem à saúde.
E é inteligente.
PARA NÃO MORRER DE AMOR
De todas as vezes em que ouvi dizer, e de tudo que li relatando à exaustão o cansaço que toma um corpo destruído pela inconformação com a ausência, com a despedida, com o sentimento de luto pela perda do objeto do desejo, uma foi capaz de me impressionar ao ponto em que seja possível perder a fala, não ter absolutamente opinião ou consolo para tanto.
Há muito tempo venho tentando encontrar uma forma de dizer a mim mesma como é que é possível uma pessoa sair de órbita, esvair-se, morrer por tanto amar.
É certo que continuo no holocausto da pena pelo sofrimento de saber-se o homem incapaz de nada poder fazer para, de alguma forma, ajudar um amigo a recuperar sua estima, ao vê-lo em decadência no estado mórbido da paixão.
As paixões são belas enquanto literatura e enquanto seja motivo de felicidade. Na prática do desamor, porém, talvez a dor da paixão seja a mais doída dos Seres.
As paixões levam o indivíduo à anulação de si mesmo, levam à perda dos mais íntimos valores, valores esses dos quais não podemos abrir mão na luta por uma sobrevivência sadia, e pretendo, neste momento, relatar um fato ocorrido há algum tempo – tão impressionante, porém, que ainda sinto arrepios quando me vem à lembrança.
Tive uma amiga, amiga mesmo, daquelas do peito, daquelas verdadeiras, daquelas de todas as horas, tive uma amiga que após alguns anos de convivência com seu companheiro, certa época essa minha amiga confidenciou-me que sentia seu companheiro distante e isso muito a atormentava, considerando que sempre viveram em plena e bela harmonia, já com uma filha de 15 anos.
Entraram naquela de discutir a relação, e a nada se chegava que justificasse o caos que dominava o casamento.
Eles apenas foram ficando tristes, ausentes. Era o fim da cumplicidade.
E foi assim que ele lhe disse que só havia uma explicação : o amor havia acabado e ele gostaria de sair de casa, pois assim julgava mais correto.
Foi embora para a casa dos seus pais, no primeiro momento.
Em dois meses minha amiga foi definhando pelo permanente estado de tristeza que a dominou e adoeceu.
Certa manhã recebi um telefonema de alguém do nosso círculo de amizades que me disse:
- Miriam, venha.
Alzirinha faleceu.
- E do que foi?
- De nada.
Causa mortis desconhecida.
Estamos velando seu corpo.
Naquele dia decidi que, a quem quer partir, cabe-nos dar Adeus com os dedos abertos e a mão direita leve, bailando ao vento.
Cabe-nos um olhar para dentro de nós, dos nossos valores escondidos pelo execesso de amor ao outro, porque desapegar-se é vital aos nossos sentidos de sobrevivência.
Faz bem à saúde.
E é inteligente.