Presidentes e seus apelidos
     
     Enquanto a Dilma (que intimidade é essa?) era empossada, eu lia, na minha vasta varanda, um livro muito gostoso: Histórias de Presidentes - A República no Catete, da escritora alencarina Isabel Lustosa.
     Nascida na cidade de Sobral, ela é autora de vários livros, entre eles,  D. Pedro: um heroi sem nenhum caráter, que ainda não li, mas creio que deva ser, a julgar pelo seu título, uma brasa viva.

     República no Catete porque a escritora fala e só fala dos presidentes brasileiros que ocuparam o Palácio das Águias, hoje o Museu da República, de 1897 a 1960, ou seja, de Deodoro da Fonseca a Juscelino Kubitschek, o nosso querido Nonô pé de valsa.
     E o faz de uma maneira a não entediar o eleitor e não chatear o leitor que, lendo-o, se diverte à beça.
     Inclusive os que, como eu, detestam ouvir falar de alguns ex-presidentes, mormente dos que, com o fechamento do Palácio do Catete, passaram a ocupar o Alvorada e o Planalto; menos, por razões óbvias, o seu primeiro inquilino, o alegre JK. 
     Mas não vim aqui absolver ou condenar este ou aquele ex-presidente. Isso a História o fará, não tenho a mais leve dúvida.
     No momento em que a Política no Brasil é sinônimo de trapaça, que tal recordar, com o precioso adjutório de Isabel Lustosa, coisas e fatos interessantes envolvendo os chamados presidentes do Catete?
     Quase todos, destaca a escritora, foram satirizados, através de charges engraçadas, quadrinhas inteligentes e apelidos espirituosos que ganharam o privilégio da perenidade histórica. 
     Pena que não possa trazer para esta crônica algumas das melhores charges que a imprensa da época, com fidelidade, registrou para a posteridade.
     Vamos, agora, recordar alguns, eu disse alguns, apodos de ex-presidentes, que se tornaram mais conhecidos, e estão no livro da escritora cearense.
     Prudente de Morais (1894 a 1898) o Biriba;
     Rodrigues Alves (1902 a 1906) o Morfeu;
     Afonso Pena (1906 a 1909) o Tico-tico;
     Nilo Peçanha (1909 a 1910) o Moleque presepeiro;
     Epitácio Pessoa (1019 a 1922) o Tio Pita;
     Artur Bernardes (1922 a 1926) Seu Mé.

     O livro tem páginas de inigualável humor a respeito de outros presidentes. Eurico Dutra, por exemplo, foi eleito pelos jornalistas o "Catedrático do silêncio": falava mal e pouco.
     Ou discurso do candidato Ruy Barbosa refutando a tese de que sua velhice fora a responsável pela sua derrota como candidato à Presidencia da República; no seu pronunciamento, da tribuna do Senado, alegou possuir excelente vigor físico. 
     Discurso que levou Emílio de Menezes a espalhar esta maliciosa quadrinha, mordendo a mulher da Águia de Haia: "Ao ouvir-lhe a gabolice/ Maria Augusta se abrasa/ Se tem tanta quanto disse/ Por que não gastava em casa."

     Deixei para o fim o mais célebre e o mais querido apelido dos presidentes, até a presente data: Gegê, o apelido do Presidente Getúlio Vargas.
     Gegê, um presidente, cuja popularidade não foi adquirida com tapinhas nas nádegas do eleitor; e nem, assassinando o vernáculo, com falatórios irreverentes, nos palanques e nos gabinetes.
     Adorava ouvir os escorreitos e quilomêtricos discursos do Gegê.
     Discursos pronunciados sem "excessos verbais"; sem o uso de termos chãs; sem comparações rasteiras, tão ao agrado de uma plateia encantada com o circo e o pão que lhe são distribuídos... Pannis et circensis.
     O seu "Trabalhadores do Brasil!" alcançava uma indescritível ressonância. Era ouvido, escutado e aplaudido do Aiapoque ao Chui, num tempo em que a mídia engatinhava.     
     Mas chega de Gegê. De repente alguém dirá que esta é uma crônica de um "queremista" saudosista. 
     Uma coisa, porém, é irrefutável: nunca na história deste País um apelido presidencial foi mais repetido e mais amaaaado do que o do "Pai dos pobres", este sim.           
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 09/01/2011
Reeditado em 17/01/2011
Código do texto: T2719250