Amigos que passam e que ficam

Domingo é um dia que sempre me deixa nostálgica, para bem ou para mal, ou ainda, para as duas coisas. Neste domingo específico, meus pensamentos se voltaram para as amizades que ficam pelo caminho.

Penso nos coleguinhas do tempo de escola, dos sonhos, das brincadeiras, de uma infância e adolescência pacíficas, como deveriam ser essas duas fases para todos. Lembro das brincadeiras ao fim da tarde, das andanças de bicicleta pelo bairro, dos jogos infantis, das histórias malucas e encantadas que viviam as bonecas, das competições e torneios em que não havia a ânsia por ser o ganhador ou o melhor, mas sim a alegria de participar. Recordo-me dos livros que eu lia entre amigas com avidez, fascinada e encantada com o descobrimento de novos mundos, novas realidades. Lembro-me das primeiras festas, das confissões trocadas entre as amigas, filmes, músicas, paixonites, das fotos de artistas e papéis de carta que se colecionavam, dos diários e das agendas em que cada amiga deixava um versinho simples, colorido, às vezes com erros de ortografia, mas que representavam o carinho, a afeição, a troca. As amizades da época da infância são repletas de pureza, de pequenos sonhos, de brigas num dia e amores no outro. Já as amizades da adolescência são intensas, baseadas na troca, nos planos, na loucura que consiste em ser um adolescente. Muitos, praticamente todos, desses amigos da minha infância e adolescência se perderam ao longo da minha vida, apenas um ou outro ainda ouço falar, existe também a distância que afasta ainda mais e também as próprias mudanças na personalidade de cada um.

Penso nas amizades da época da faculdade, intensas na mesma proporção, idealizadoras, com seus planos e metas. Pessoas que na busca pela profissão, pela carreira a ser seguida encontram-se e juntas tentam conciliar ideais e sonhos. Tive realmente grandes amigos nesse período da minha vida, grandes descobertas, grandes frustrações também, porque também as decepções fazem parte da vida e colaboram para o crescimento. Muitos desses amigos continuam na minha vida, seja no trabalho, seja no cotidiano, seja distante mas presente nas lembranças; outros se foram, mudaram de estado, país, trocaram de carreira, casaram, separaram, tiveram filhos e até um deles já deixou esta vida, mas os bons momentos não podem ser esquecidos.

Também penso nas amizades na fase dita como adulta, amigos remanescentes da faculdade, amigos que de colegas de trabalho se transformaram em algo mais, amigos que conheci por meio de outros amigos, amigos que apenas de olhar um no olho do outro se sabe que pode confiar. Também esses com o tempo foram e estão sendo levados e eu sei que novos virão, mas sei principalmente que cada um tem seu lugar, tem seu espaço no mais íntimo do ser.

Penso ainda nos amigos que o tempo transformou em inimigos, embora eu não goste dessa palavra e muitas vezes prefiro dizer que se distanciaram. Por que isso chega a acontecer? Talvez por falha do amigo, talvez por falha própria, dos dois ou de ninguém, ou porque talvez a vida realmente apronta dessas com todos. Mesmo com esses nem tudo foi em vão, bons momentos ficaram e acredito que, por mais que uma retomada no relacionamento seja inviável, não há que se odiar, não vale a pena. Melhor que cada um siga sua vida, encontre suas forças e novas amizades, novas felicidades.

E penso, por fim, em quem serão os próximos amigos que conhecerei e que também um dia ficarão pelo caminho, porque assim é a vida. De onde eles virão? Como eles serão? Quem sabe cada pessoa que surge na vida não seja justamente pra deixar uma marca, uma lição, um aprendizado, umas vezes boas coisas, noutras não tão boas, mas que, no fundo, colaboram para se conhecer ainda mais sobre si mesmo e sobre o mundo?

O importante é que, independente do dia da semana em que se está ou da fase da vida em que se encontra, é muito bom ter amigos.

Ana Claudia Brida
Enviado por Ana Claudia Brida em 09/01/2011
Código do texto: T2719116
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.