Nadismo de novo
No meu texto anterior, comentei sobre o nadismo, ou seja: uma tentativa de conscientemente ‘fazer nada’ por um certo período do dia. Depois, pensando melhor, vejo que o colega José Cláudio tem razão em seu questionamento de que até mesmo ‘fazer nada’ seria já estar fazendo alguma coisa.
Esse parece ser o argumento por trás do velho ‘deitado’ que diz: “Quem cala, consente”. E pensando mais seriamente ainda, dado que não consigo parar meus pensamentos, constato que não sou realmente capaz de ficar ‘fazendo absolutamente nada’ em qualquer momento. Até mesmo quando dormimos, sonhamos (ainda que não nos lembremos dos sonhos ao acordar), o que sugere que não só o tempo não se consegue parar, a mente também não.
O que podemos fazer é, no máximo, tentar desligar, por vezes, do mundo, da passagem do tempo e do trabalho contínuo da mente. Assim sendo, ‘fazer nada’ seria só uma tentativa de não se permanecer 'conectado' o tempo todo, e sem culpa alguma por se ter 'interrompido a conexão'.
Hoje, por exemplo, o dia amanheceu lindíssimo! Um sopro primaveril bem no meio do inverno, um presente dos céus pra quem vivenciou o ‘inferno’ da neve no final de ano por aqui. Um presente dos céus sim, mas não para os que estão sob a ameaça de enchentes.
Bom, a temperatura subiu (hoje tivemos 13 graus Celsius), o sol saiu, a neve derreteu e os rios não param de subir. Onde vivo, provavelmente não seremos atingidos por cheias, o que não me livrou de, durante um passeio que fiz hoje pelo bosque, pensar nas prováveis vítimas.
Aliás, caminhadas assim são uma excelente forma de tentar ‘fazer nada’: só eu e natureza, a natureza e eu, e de vez em quando alguns passantes que tiveram também a mesma idéia. Claro que quando faz bom tempo por aqui todo mundo quer aproveitar, é justo! E justo hoje, num sábado, “caiu a sopa no mel”, quero dizer: “juntou-se a fome com a vontade de comer”.
Tentar entrar em contato com a natureza é uma excelente chance de treinar esses 'desligamentos' voluntários das coisas materiais. De quebra, ar puro e movimento, cientificamente comprovado, só faz bem ao corpo, à mente e ao coração.
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