Quando me calo, talvez faça o meu melhor discurso
Quando me calo, talvez faça o meu melhor discurso. Há no silêncio todas as palavras que gostaria de dizer. No fundo não vejo o relógio da praça. Não estou preocupado com o tempo. Não consigo sumir para que minha imagem dê uma trégua aos que estão a minha volta. Eu tinha medo de me expor. Eu tinha pavor de ser olhado. Havia um monstro escondido, que me espiava toda vez que me apresentava para a vida. Cada canção que eu ouvia trazia na letra algo que me confortava. A melodia enchia minha alma. Muitas vezes, a música salvou minha vida. Na mesa faltava um lugar. Não era preciso ser preenchido. Ninguém se importava com isto. Eu me sentia excluído, mas aprendi a tomar meu café separado. Uma voz grossa ecoava na minha cabeça de menino. Um tom de uma nota desconhecida para mim. O tempo me fez entender e reinventar minha vida, retirando proveito daquela matéria supostamente perdida. Uma pessoa solitária, ingênua e crua. Não havia expectativa naquele rapaz franzino. O mundo girou e o rapaz se fez homem. Driblou o destino e marcou um “gol” na esperança de jovem. As risadas de um passado pouco convencional. As saídas através de portas fechadas. As oportunidades, que não foram aproveitadas. Os diamantes, que esquecemos de lapidar. Não podemos prever nada. A vida se encarrega de nos levar, resta-nos apenas viver.