Crônica ao som de Jobim.

Sabe aqueles dias que você acorda, abre o armário de roupas e descobre que precisa comprar X coisas para ir àquele aniversário, àquela reunião importante ou àquele jantar social? Bom, aconteceu uma dessas comigo na semana passada.

Era um sábado, daqueles sem uma nuvem no céu, perfeitos para ir à praia (eu moro a duas quadras do mar). Acordei cedo e fiquei pensando no que eu ia fazer: shopping ou praia.

Escolhi o primeiro, afinal, sairia à noite para uma festa e precisava ir às compras.

Fui sozinha. O Shopping estava lotado e eu, como sempre desastrada, ia trombando em todo mundo.

Cheguei à loja. Prometi a mim mesma que seria rápida (nós sempre queremos ter um tempinho a mais no fim de semana). Tudo transcorreu bem, encontrei tudo o que necessitava e a fila nem estava tão grande. Olhei as horas e vi que dali a pouco seria hora do almoço. Apressei-me. Shopping ainda lotado, eu trombando na maioria das pessoas.

Do nada (ou de algum lugar que eu não sei exatamente onde) surgiu na minha frente uma menina, com os seus quatro anos, no máximo. Alguém (sem vê-la, obviamente) a derrubou. Na hora, como estava bem próxima a ela, levantei-a e olhei ao redor para ver com quem ela estava. Naquele momento a mãe dela veio em minha direção e arrancou-a dos meus braços. O que me aborreceu não foi esse ato, creio até que qualquer um agiria daquela forma. O que (inconscientemente) me irritou foi o modo que ela me olhou, com um olhar frio, como quem arranca a filha de um monstro, de um assassino, ou algo parecido.

Eu fiquei chocada, paralisada no meio de toda aquela gente (mesmo sabendo que ninguém estava notando qualquer coisa). Como aquela mulher podia me tratar assim? Se não fosse por mim, a filha dela provavelmente teria sido pisoteada por pés descuidados. Até eu, se não a tivesse visto, provavelmente também o faria.

Infelizmente, naquele momento eu só pude pensar de modo irracional, senti-me injustiçada, machucada pela minha ação de boa vontade. Grande sabedor das coisas mundanas aquele que disse (de outro modo, é claro, mas sem perder os direitos autorais, afinal, há muitas formas de falar sobre uma única coisa, mas o verdadeiro autor é aquele que pensou daquela forma antes de todos) que nós pensamos melhor de cabeça fria.

Quando voltei para casa e fui tomar um banho, vieram-me à cabeça diversas divagações.

Na hora eu não pensara no sentido literal da palavra mãe. Aquela mulher estava protegendo o seu bem mais precioso. Já eu, eu estava protegendo alguém desconhecido e estava preparada para dizer somente um “de nada” e seguir em frente, mas como não fui agradecida, senti-me humilhada.

Claro que às vezes ainda penso que a reação da mulher foi exagerada, mas sempre me lembro que ela foi de certa forma induzida a agir daquela maneira, pelo perigo que a própria sociedade nos impõe.

Provavelmente ela achou que eu poderia representar algum perigo à filha e na hora, assim como eu, tomou um julgamento errado.

Julgamentos, por mais que estejam certos, são sempre errados.

TMB
Enviado por TMB em 23/10/2006
Código do texto: T271650