SAUDOSO PÉ DE JATOBÁ
Seus galhos com folhas ligeiramente distantes umas das outras (é assim o Jatobá), caíam lindamente sobre o telhado da minha varanda, a natureza me proporcionava gratuitamente um telhado vivo (muitos pagam fortunas para criar um). Seu tronco majestoso denunciava uma idade de aproximadamente cem anos. Quase todas as tardes, abrangendo as estações do ano primavera, outono e verão, era comum ver as nuances indefinidamente indiscretas nos bicos das dezenas de Tucanos que ali pousavam alegremente para saborear as frutas do Jatobá. Três casinhas de Joões de Barro faziam parte desse cenário mesológico todos os anos (já fazem três que visualizávamos essas maravilhas), cantavam alegremente anunciando que novos bebês estariam a caminho, ao mesmo tempo em que, chuvas verdes de periquitos muito rapioqueiros, caíam sobre os galhos numa intensa gritaria... Os Sabiás Laranjeira, lá estavam sempre antes ainda de o sol nascer, anunciando que um novo dia estava para chegar, suas canções eram como dádivas prazerosas aos meus ouvidos que enviava rapidamente os sons à minh’alma, enchendo meu coração de alegria... - Sabiam que os Sabiás são eternos madrugadores? Pois são. Os Bem te vis a todo o instante davam o ar de sua graça, cantando suave e repetidamente: “Bem-te-viii”, “Bem-te-viii”, “Bem-te-viii”... Os beija-flores sobrevoavam o Jatobá, acho que para apreciar aquela irresistível beleza majestosa, na verdade não é a sua árvore preferida, mas faziam-se presentes, por vezes eu os vi. Sentada embaixo do pé de Graviolas que preservo com o maior carinho em meu jardim, ficava eu quase todas as tardes (depois do trabalho) apreciando essa maravilha, sempre apareciam passarinhos novos e desconhecidos quanto à sua espécie, também de inigualável beleza. Com certeza o caro(a) leitor(a) com sua sensibilidade peculiar, irá fechar os olhos e visualizar esse quadro e massagear a alma por alguns instantes. Para quem o Poeta amante da Natureza, isso acontece automaticamente. As cigarras, estas sim, amavam o pé de Jatobá como jamais se poderia imaginar. Elas apreciam a claridade, o Jatobá com suas folhas dispersas era o cenário perfeito para as suas cantorias. Seu tilintar soava o dia inteirinho sem interrupções. Tanto prenunciam o verão como continuam a tilintar verão adentro... As cigarras emudeceram, suicidaram-se, cortaram o pé de Jatobá... incrivelmente, difícil de acreditar, logo após o corte, durante dias, dezenas de cigarras entravam à noite em minha sala e debatiam na luz e contra a parede, desesperada tentava salvá-las, as que conseguia levava de volta à Natureza (no pé de mangas em meu quintal), outras amanheciam inertes e sem brilho pelo chão. Com o passar do tempo elas sumiram, desoladas e decepcionadas com o dito “Ser humano”. A despeito de tudo, ainda ouço seu tilintar, mas não no pé de Jatobá.
Pasmem! O Pé de Jatobá não era meu e sim do meu vizinho, se é que pretensiosamente temos a ousadia de acharmos que somos donos de árvores... a Natureza que nos perdoe por esse desatino. Incrível que a Lei do Meio Ambiente diz que sim, se está no seu domínio de moradia, você pode fazer o que quiser com a “sua” árvore, o que nos leva ao antagonismo dos movimentos de preservação ambiental que se espalha pela mídia n’um recheado engodo social “e assim vão exterminando a Natureza” sem titubear, sem compaixão.
Naarinha.
(Leiam Haikai "Cigarras suicidas"... esta é a história completa).