PERFILANDO UM LITERATO

Acreditamos que o literato é a pessoa que gosta de voar, sem limite ou fronteiras, a bordo da criatividade e da palavra entrançada com a beleza dos arranjos lingüísticos. Daí, sem dúvida, não ser afeito a discorrer sobre o que lhe sopram os ventos da realidade.

Talvez, seja para o literato, no verdadeiro sentido da palavra, difícil narrar, de forma imparcial, omitindo a forte voz do seu poder de emoção, um acidente que presenciou.

O artista da pena prefere ter livre a sua voz e, assim, selecionar o assunto que condiz com o seu subjetivismo momentâneo, e permite que a sua palavra bela e fecunda se enrosque, facilmente, em cada lance de pensamento ou emoção.

Outro dia vi, em algum livro, que o ficcionista perde a sua voz, diante do que ele próprio não constrói, mas sim o destino ou o andamento da realidade. Com certeza, torna-se bastante difícil a um literato reproduzir uma história verdadeira, já que não pode envolvê-la com os malabarismos criacionais do pensamento e da linguagem, uma vez que a reprodução do factual não pode oferecer diferentes caminhos à interpretação do leitor.

Comparamos a mente do literato com uma grande gaiola, todavia com as portas abertas, o os pensamentos, quais os passarinhos, alçando voo livre ao espaço, realizando elipses em homenagem à liberdade.

O verdadeiro literato lê, estuda, treina a palavra escrita, mas desvia-se de qualquer obstáculo que possa interromper o curso do seu vôo livre, assim sendo pode até ouvir a opinião de algum crítico, no entanto sem deixar que corte as suas asas e torne seus voos intermitentes.

O maior crítico e disciplinador de um literato é, sem dúvida, ele próprio, daí a necessidade de ficar atento ao espaço da cultura e da criticidade, procurando alçar longos voos, quem sabe, no caminho da transcendência.

ELIANE ARRUDA
Enviado por ELIANE ARRUDA em 06/01/2011
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