A empresa onde trabalho confecciona uma re-vista que distribui, gratuitamente, para os empregados e para os aposentados.
Cheguei pela manhã, bem humorada como sempre, e logo o telefone tocou.
Do outro lado da linha uma voz, caquética e áspera, gritou no meu ouvido:
- ALÔ
- Pois não, em que posso servir-lhe?
- Minha filha, o negócio é o seguinte. Desde que me aposentei, eu sempre recebi a revista de vocês, mas agora, depois que me mudei, não a recebo mais.
- O senhor informou o seu novo ende-reço?
- Sim, minha filha, É CLARO QUE INFORMEI- berrou. Ontem eu liguei e dei o endereço novo a um rapaz que atendeu.
- Bom, se o senhor deu o novo endereço ontem, naturalmente ainda não deu tempo para o correio levar a revista até o seu do-micílio. De todo modo me repita o endereço para não haver dúvida, pois quem atendeu foi um estagiário que começou a trabalhar ontem e ele pode ter se enganado em algum detalhe. Eu mesma vou me encarregar do envio.
- Não vou repetir porra nenhuma. Essa revista já era pra ter chegado se vocês, que são uma empresa rica, a tivessem enviado por SEDEX.
- Mas meu senhor, se mandarmos todas as revistas por SEDEX vamos passar a ser uma empresa pobre...e emendei antes de lhe dar oportunidade de falar: bom, então eu vou ler o que o rapaz escreveu só para o senhor con-firmar, está bem assim? Aqui está escrito: Rua da Amargura, Bairro da Imcompreensão, Muni-cípio de Águas Turvas, CEP 300 000 000, está correto?
- É isso mesmo, minha filha. Será que a revista vai chegar ou eu vou morrer antes?
Já perdendo a paciência, eu lhe respondi: bom, não sei se o senhor está com o pé na cova, o que seria uma lástima, já que perder uma pessoa tão simpática como o senhor seria uma perda irreparável, mas por via das dúvi-das, eu mando duas: uma para o endereço citado e outra para o inferno, onde o senhor já deve ter um lugarzinho reservado esperando pelo senhor.
Ele bateu o telefone na minha cara, mas eu fiquei levinha...levinha.