O TEATRO EM NITERÓI
O TEATRO EM NITERÓI
Nelson Tangerini
Luiz Leitão e Nestor Tangerini, além de escreverem sonetos satíricos e freqüentarem a Roda Literária do legendário Café Paris, também se dedicavam ao Teatro de Revista.
Juntos, levaram ao palco do Teatro João Caetano, em 1933, a peça TUDO PELO BRASIL. Alguns textos da referida peça eram de Tangerini; outros, de Lili; outros, dos dois.
No folheto propaganda de TUDO PELO BRASIL, dois sonetos humorísticos, Elas, de Luiz Leitão, e Quando ela passa, de Nestor Tangerini, para aguçar a curiosidade do cidadão que passa. O objetivo da dupla é, sem dúvida, prometer um refinado humor e levar a poesia satírica para o palco.
Como se sabe, esses poetas conheciam a tradição satírica deste tipo de poesia em língua portuguesa, começada com os cantadores medievais e levada a sério – eufemismo! – pelos poetas que viriam depois: Bocage, Tolentino, Gregório, Gonzaga, Bastos Tigre, entre outros.
Antes de se juntarem – e se afinarem - em TUDO PELO BRASIL, Luiz Leitão e Nestor Tangerini já haviam mostrado seus trabalhos em palcos niteroienses. Tangerini, por exemplo, já havia apresentado, em 1927, a sua peça BONDE ERRADO, que contava, no elenco, com a atriz Antônia Marzullo, sua futura sogra. O “Bonde de Tangerini” foi patrocinado pelo empresário Oscar Mangeon, que montou a peça em sua casa de espetáculos Cine-Teatro Éden. Oscar, também poeta, era amigo dos garotos do Paris, e caía na farra com eles.
Como ambos eram muito ligados à atmosfera do teatro, também fariam a ele piadas e críticas, através de sonetos humorísticos. Em O Canastrão, jornal de Nestor Tangerini, p. 4, Niterói, RJ, Anos 1920 [não consegui identificar o ano], Luiz Leitão, com o pseudônimo Bacorinho e mais próximo das Cantigas de Escárnio, nos brinda com uma hilariante crítica ao escritor teatral Freire Júnior e à atriz Alda Garrido:
“NO PICADEIRO
Por que o escritor conhecido
Freire Júnior, que é de fato,
Vive agarrado à Garrido,
Pior do que carrapato?
Que me explique um mais sabido,
Que eu, como moço pacato,
Não tenho nada entendido:
Esta charada não mato.
Consta, até, que o “musicista”,
Para unir-se mais à artista,
Vai fundir seu nome ao de Alda...
Entrelaçar vai os dois,
Para assinar-se, depois,
Em lugar de Freire, Fralda...”
Luiz Antônio Gondim Leitão [* Niterói, 25 de janeiro de 1890 – + Niterói, 4 de abril de 1936], escreveu uma dezena de peças teatrais [Tudo na rua, 1914, Então não sei?, 1915, Pra cima de moi, 1916, Logo cedo, 1917, Das duas uma, Eu aqui e ela lá e O espora, 1918, Bancando o trouxa, 1921, Demi-garçonete, Niterói em cuecas e A ceia dos presidentes, paródia de A ceia dos coronéis, de Bastos Tigre [de parceria com Nestor Tangerini], 1924, O rende-vous amarelo, caricatura de O reposteiro verde, de Júlio Dantas, 1930, Minha sogra é do outro mundo, 1933, Tudo pelo Brasil [de parceria com Nestor Tangerini], 1933]. Lamentavelmente, toda a obra teatral de Lili Leitão desapareceu. Comigo, ainda guardo um esquete, O filho do padeiro [de Nestor Tangerini] escrito para a revista Tudo pelo Brasil, Empresa Teatral A. Neves e Companhia, absoluto sucesso no Teatro João Caetano. Pelo menos é o que dizem os periódicos do antigo Distrito Federal, na época.
Nelson Tangerini, 55 anos, é escritor, jornalista, compositor, poeta e professor de Língua Portuguesa. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ] onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini, da ABI, Associação Brasileira de Imprensa, e da ALB, Academia de Letras do Brasil. É filho do escritor Nestor Tangerini e neto da atriz Antônia Marzullo.
NOVO BLOG: http://nelsontangerini.blogspot.com/