E quem vai estar aqui, quando o jardim desaparecer?

Quando o jardim está florido, olhamos da janela e vemos as pessoas passarem admiradas com tamanha beleza. As flores mostram que a primavera chegou definitivamente, e assim sendo, o sol brilhará por alguns meses a fio.

Pode ser que o perfume dos botões desabrochados tenham realmente o poder de encantar, seduzir quem passa por perto. Pode ser também que os espinhos das rosas mais bonitas, desafiem os mais corajosos a chegar mais perto. Ou mesmo o grande colorido de todo este jardim, tão vasto que nem mesmo o maior arco-íris poderia imitar.

Mas alguns passantes nos fazem pensar se aqueles olhares são tão puros e tão despretensiosos como sugerem. Alguns se encantam mais e perdem mais tempo por ali. Mesmo o mais inocente observador poderia ver que algo estaria diferente.

Só que os passantes são de fato passantes e conforme o tempo passa, eles passam mais e mais e não sabemos ao certo quem voltará.

Nenhum jardim é eterno, e infelizmente algumas flores deixam de aparecer no dia seguinte. Já não são tão belas, nem tão perfumadas e indicam dessa forma a chegada de outras estações.

Quando o outono se aproxima, deixando para trás toda magia fervorosa do verão, percebemos através da mesma janela que algumas pessoas jamais voltam ao jardim. Algumas delas nem definiriam o monte de folhas secas com alguns caules esquecidos, como jardim e sim como mais um local por onde passarão.

A chuva também vem, e os corajosos não são mais os desafiadores de espinhos. Os corajosos nem sequer sabem que naquela janela alguém olhará a cada manhã, esperando ver alguém que não se importe com as folhas ou com a maneira por que o jardim sumiu.

O olhar esperançoso da janela é de alguém que vive não só para a beleza das flores, mas é alguém tão capaz de superar semanas de folhas caídas ao chão, só para ter uma manhã de belos olhares passantes que retribuem a imagem de um jardim tão encantador.

Quem olha da janela sabe que, junto com os admiradores, virão também os que desejarão a morte das flores, pois não querem perder seus invernos sob uma imagem ruim a fim de mais tarde transformá-la no jardim, e esses passantes estão em todas as ruas, em todos os instantes sempre prontos para tapar o sol dos que radiam mais.

Aos que não voltarão no próximo verão, ficará a impressão refletida naquele instante. Eles não terão a oportunidade de saber quantas novas flores brotaram ali, ou quantas outras jamais aparecerão novamente.

Aos que virão fielmente todos os verões, ficará a certeza da janela sempre aberta. Por maior que esteja o jardim, sempre haverá espaço para um olhar lá de dentro.

Aos que não sabem seus caminhos seguintes, ficará o convite do jardim sempre belo. Junto um lembrete de que o frio sempre vem, mas que do outro lado janela sempre haverá sol para aquecer.

Aos que ficaram invejados, a mensagem gravada na placa da entrada diz:

“Voltem sempre. Quando uma flor morre é sinal de que o jardim precisa de mais cuidados e assim quem está atrás da janela a observar terá sempre com o que se ocupar e jamais perderá forças para esperar o próximo verão florido!”

Os jardins da vida são distintos por diversos motivos, mas sempre há quem se fascine com sua beleza, quem admire suas flores assim como quem irá desprezar seus encantos.

A melhor certeza é que enquanto houver observadores, haverá em algum cantinho uma flor. E enquanto restarem flores, haverá alguém na janela para esperar pelo próximo verão de jardim florido!

Alice Fialho
Enviado por Alice Fialho em 05/01/2011
Código do texto: T2709954
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