Sobre cães e gatos
- ... realmente ela toda pretinha é linda!!
- Será que não dá para ir ao banheiro em paz nessa p... de boate? Quem afinal que está toda de pretinho e é linda Sr. Dé Garfield?!
- Uma guitarra Gibson, modelo Les Paul minha cara H [melhor deixar os nomes no anonimato, existem pessoas que não gostam de saber deles]...Eu estava falando de guitarras e não de mulheres, minha querida!
Essa quase briga um tanto inusitada que ocorreu comigo há alguns anos atrás lança luz, agora que estou mais velhinho, sobre algumas coisas que acho que aprendi sobre relacionamentos e mulheres, não raro esfregando meu coração no asfalto.
Primeiramente, é péssima esta história de ter nome composto! O melhor termômetro para saber se sua namorada (chamemos genericamente assim, embora saibamos da enorme variação de relacionamentos possíveis: rolo, ficar, “pegueti” etc, etc) está verdadeiramente brava com você é quando ela te chama pelos seus dois nomes, seria mais ou menos se ela quisesse dizer “seu cachorro” ou “seu filho da...”, embora ela até goste e admire a sua quase-futura-ex-sogra.
Outro dado: as mulheres em geral são assustadoramente imaginativas! Elas sempre acreditam que você é irresistível, mesmo com todos os seus defeitos e incongruências – aliás, habilmente lembrados e mapeados em uma briga; que todas as mulheres da praia, do bar, da festa, estão te olhando e com um olhar indelével de desejo, como se não houvesse um grupo muito expressivo de outras mulheres que te acham um carinha legal, até engraçadinho, embora absolutamente desprezível ou dispensável.
Além da imaginação afiada e criativa não poderíamos esquecer da dissimulação. Nisso elas são imbatíveis! Como escrevera Balzac (esse sim um autor de verdade e que mereceria ser lido): “ela parece ter à mão a folha da figueira que lhe deu nossa mãe Eva”. Uma tremenda gafe como a acima mencionada, que faria com que um homem se sentisse o maior idiota pela noite toda, passa em dois minutos: um belo sorriso ou algum comentário meio prosaico sobre seu exagero e o “mal entendido” e ... pronto.
Essa talentosa capacidade de dissimular acrescida de uma inteligência sutil e muito, muito detalhista, mesmo que em quase nada pragmática e direta, talvez seja uma das raízes dos desencontros, frustrações e desentendimentos, para não usarmos o termo politicamente incorreto e um tanto démodé “guerra dos sexos”, uma vez que parecemos um verdadeiro oráculo entender exatamente o que uma mulher quer que você diga ou faça numa determinada situação. Busquemos um exemplo clássico. Um belo dia, normalmente em lugares públicos e cheios de outras mulheres, sua mulher entre um gole e outro lança no ar a fatídica frase: “estou me achando tão gorda”. Tal frase seria desnecessária se considerarmos que as mulheres sempre se acham gordas, pelo menos a partir de um conceito sui generis de gordura que talvez só elas entendam. Na verdade, sua mulher quer que você perceba que além de “gorda” ela está se sentindo carente e insegura, já que gorda ela se sente sempre! O que ela quer, na real, é um belo elogio e uma dessas promessas fáceis de amor eterno.
E a T.P.M? Essa daria uma crônica à parte! Claro que não irei bancar o insensível e nem o troglodita e qualificar como “frescura” algo que é medicamente definido como doença e que em alguns casos realmente carece de tratamentos especiais. Mas, a despeito disso, conheço muitas mulheres que se aproveitam desse real estado de desconforto para tecer as mais duras críticas; fazer os piores tipos comentários; falar com a sutiliza que lembraria o Maguila quando dá entrevistas para alguns dias depois sussurrar docemente em seu bombardeado ouvido: “desculpe-me meu bem, eu estava de T.P.M!”
Enfim, mesmo as mulheres sendo seres verdadeiramente fascinantes e deliciosos, estou bastante inclinado a dar razão ao jornalista norte-americano Mencken, e desculpe-me as leitoras que ainda não estavam sentido vontade de me matar: “só há uma coisa que homens e mulheres concordam: nenhum dos dois confia em mulher”.