Pão com Mortadela

Existem lanches sofisticados – todo mundo sabe – desde aqueles de carnes nobres com especiarias, finíssimos, por isso mesmo caro nos preços, ou aqueles simplesmente mata-fome. De todos, nenhum é tão famoso e popular quanto o lendário pão com mortadela. Com uma fatia, passa despercebido o sabor; com duas, promete ser ainda melhor. O de três fatias no meio do pão é soberano, triunfa como carro-chefe dos lanches simples, barato e rápido. Inconfundível, pelo bem ou pelo mal (tem gente que reclama que o gosto não lhe sai da boca, pelo arroto ou na digestão mais lenta), é muito apreciado na pescaria de barranco em beira de rio, acompanhado por um cigarrinho de palha. Outras vezes, e não raras vezes, é o substituto do almoço, circunstância à parte, seja pela ocasião ou pelo tostão.

Precisando fazer perícia médica na Capital, para conseguir a tão almejada aposentadoria, o humilde meeiro é levado a provar as delícias do meio pão, cujos recheios nunca vira mais gordo. Dos 63 tipos de lanches do cardápio, nenhum lhe caiu ao gosto, ou ao conhecimento, quer pelos estranhos nomes ou os desconhecidos conteúdos. Envergonhado, em tom de voz confidencial, ao atendente ele pede um sanduiche de mortadela, no que prontamente é repreendido, já que o estabelecimento poderia servi-lo peito de peru, nomenclatura soberba e elegante à tradicional e modesta mortadela. Confirma o pedido, consome o produto, paga a conta, mas sai cabisbaixo, insatisfeito. No caminho até a ambulância que o levaria de retorno à cidade do interior, reflete e murmura ao motorista: “O lanche estava gostoso, mas o peito de peru da cidade grande não chega aos pés do sanduiche de mortadela da vendinha do “seu” Brás“.

É, nem tudo a Capital pode oferecer de melhor, mesmo dando cognome natalino à mortadela de todos os dias.

Reflexão: seja mel ou fel, no céu ou no inferno, não faça muitas perguntas, não questione, coma quieto e boa viagem. É bem possível que você venha a comer o que gosta, tenha o nome que tiver.