CONVITE AOS RECANTISTAS
CEVANDO O AMARGO - Lupicínio Rodrigues
Amigo boleia perna
Puxe banco vai sentando
Encoste a palha na orelha
E o crioulo vai picando
Enquanto a chaleira chia
O amargo vou cevando
Foi bom você ter chegado
Eu tinha que lhe falar
Um gaúcho apaixonado
Precisa desabafar
Chinoca fugiu de casa
Com meu amigo João
Bem diz que mulher tem asa
Na ponta do coração.
Recantista amigo, te convido para conversarmos no melhor estilo gaúcho, ou seja, através da música. Inicio dizendo que EU SOU GAÚCHA, SOU de Santa Maria, E TRATO TODO MUNDO COM O MAIOR RESPEITO (Gaúcho de Passo Fundo - Teixeirinha). Meu respeito não se restringe apenas às pessoas. Amo os animais e abomino o costume de prender pássaros em gaiolas. Me alegra vê-los voando, porque SE CANTAVAM NA PRISÃO, CAMPO A FORA CANTAM MAIS (Os Cardeais - Cesar Passarinho).
Uma das características famosas do Rio Grande são os ventos. No inverno, o minuano, forte e frio, castiga a pele das prendas! E tem aqueles dias de um VENTO FORTE, CAMPO AFORA, QUEM VAI EMBORA TEM QUE SABER, É VIRAÇÃO (Vento Negro - José Fogaça). Quando o vento é quente e vem dos lados de Santa Catarina, o gaúcho se assanha e exclama: SOPRA FORTE, VENTO NORTE, ANTES QUE ESTA CHUVA CAIA, QUERO VER A CHINOQUINHA, SEGURAR A SUA SAIA (Vento Norte - Airton Pimentel).
A lida no campo é valorizada e a paisagem, à tardinha, é bucólica: o campeiro toma UMA PURINHA QUE FAZ RIMA COM OUTRO MATE E UM CÃO LATE CONTRA O GUACHO NO OITÃO (Ainda Existe um Lugar -Miguel Marques). O gaúcho tem orgulho dos seus feitos históricos mas, as vezes, demonstra tristeza, porque NO PEITO EM VEZ DE MEDALHAS, CICATRIZES DE BATALHAS FOI O QUE SOBROU (Sabe Moço - Leopoldo Rassier).
Aqui os romances brotam espontaneamente como MARIA, FLORÃO DE NEGRA, PACÁCIO O NEGRO NA FLOR, SE NEGACEARAM POR MESES PARA UMA NOITE DE AMOR (Romance na Tafona - Luiz Carlos Borges).
E tem os fandangos famosos, aos fins de semana, quando a gauchada se apruma e vai para qualquer FIM DE MUNDO, ONDE GEME UMA CORDEONA, ONDE SE EMBALA sua ALMA DE CAMPEIRO, PELOS LUZEIROS DA MIRADAS QUERENDONAS (Cambichos - Luiz Bastos). As vezes uma prenda grita: PÁRA PEDRO, PEDRO PÁRA! ERA O PEDRO, LÁ NUM CANTO, BELISCANDO A NAMORADA (Pára Pedro - José Mendes). E tem os românticos que dizem: VOU APRENDER A FAZER VERSOS E ALGUM BILHETE ESCREVER, PRÁ QUE A FILHA DO SEU BENTO SAIBA QUE ELA É O MEU BEM QUERER, POIS SE NÃO FOR POR ESCRITO EU NÃO ME ANIMO A DIZER (O Guri - Cesar Passarinho).
É um povo feliz, que demostra amor por suas cidades. Talvez a mais famosa homenagem a uma cidade gaúcha é a que diz: E NA HORA DERRADEIRA QUE EU MEREÇA, VER O SOL ALEGRETENSE ENTARDECER, COMO OS POTROS VOU VIRAR MINHA CABEÇA, PARA OS PAGOS NO MOMENTO DE MORRER (Canto Alegretense - Antonio Augusto Fagundes).
Este É O MEU RIO GRANDE DO SUL, TERRA E COR, ONDE TUDO O QUE SE PLANTA CRESCE E O QUE MAIS FLORESCE É O AMOR (Céu, Sol, Sul - Leonardo). Mas, para terminar o papo, não posso esquecer da MARIA FUMAÇA (Kleiton e Kledir) que, no início, eu fiquei toda orgulhosa, pensando ser em minha homenagem, já que fumo como uma chaminé... rsrsrs! É uma lembrança dos trens movidos a lenha que, por décadas, cortaram os rincões da minha terra!
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* chinoquinha = prenda, mulher
* negacearam = vigiaram, provocaram, observaram
* oitão = pedaço de muro alto, parede lateral de uma casa
* cordeona = espécie de gaita de foles
* miradas = olhadas
* guacho = criado com mamadeira
* querendona = querida