Pegar ou largar
Madrugada tranqüila, quatro e meia da manhã, marido senta na cama e diz: - Vamos!
- Onde? Que hora são? Que dia é hoje? Vamos p’ra onde?
Ele levanta, começa a se vestir, abre a janela, comenta que o tempo está bom.
Ela também levanta e por imitação também se veste e vai fazer café. Ainda ouve a pergunta de vem do quarto: Não quer ir?
- Ir, eu quero, só não sei para onde.
- É pegar ou largar. Se quiser, vem comigo, se não quiser, tudo bem, vou sozinho.
Ele bem sabia que não iria sozinho. Conhecia a mulher há muitos anos para saber que ela não deixaria de ir fosse para onde fosse. Não falou de véspera por ficar com medo de ser atacado pela preguiça de pegar estrada, ou por não saber como amanheceria o tempo. Não planejou a dois porque estava cansado de ver seus planos não serem realizados e a cobrança ser insuportável, como sempre. Tal como aquela viagem ao Rio de Janeiro que nunca aconteceu. Era motivo de risos em toda reunião de família.
- Já pegou o guia?
- Guia? Para onde vamos afinal? Se vou ser co-piloto preciso saber das coordenadas. Guia do Brasil ou guia de São Paulo.
- Leva os dois. Melhor pegar agasalho. Na volta pode fazer frio.
E foi assim que ela ficou conhecendo Aparecida do Norte. Não teve que curtir a preparação da viagem, mas nunca pode reclamar por não ter ido.