Rio do Medo
Preparei-me para o pior! Perdoem-me, amigos e leitores cariocas, mas confesso que a idéia de passar o reveillon no Rio despertavam os piores temores em mim. Memórias de reportagens sensacionalistas sobre a cidade maravilhosa vinham à minha mente; e, minha mulher grávida e Copacabana lotada não pareciam uma boa combinação; e não eram! Mas fomos assim mesmo; e contra a opinião de todos, e do meu próprio bom senso, embarcamos para o Rio naquele dia 31 de dezembro. Loucura?
Há mulheres, quando grávidas, que desejam pratos estranhos, frutas exóticas; minha mulher desejou algo bem diferente: uma viagem para o Rio! Não deveria ter ficado surpreendido, afinal, eu sabia que Auri não desejaria algo muito normal; eu sabia que viria algo inesperado, só não imaginava que seria esse tipo de jornada; mas, como qualquer bom marido, tratei de correr atrás do desejo dela, afinal, eu não queria que meu filho nascesse com cara de vagamundo...
Com a ajuda do meu amigo Gérson, os arranjos foram feitos, passagem e hotel confirmados; tudo parecia muito tranquilo e seguro, mesmo assim, eu estava desconfiado: estou indo para o Rio, oras, na virada do ano. Sei que algo vai acabar ocorrendo.
Viajamos no última dia do ano. Auri estava trabalhando até o meio dia. Quando chegamos no aeroporto, tudo estava muito calmo...estranho! Até enbarcamos mais cedo... mais estranho ainda! O voo durou menos que o nosso tempo na fila da cafeteria do aeroporto. Tudo muito tranquilo, tudo muito qualquer data menos o fim do ano.
No Rio, facilmente conseguimos um taxi, mais rápido ainda chegamos no hotel, muito mais fácil ainda, chegamos algum tempo depois, em Copacabana, e quando o relógio estava quase marcando meia-noite, tive que me beliscar, nada de ruim tinha ocorrido, nenhum imprevisto, nada inesperado tinha atrapalhado a nossa jornada.
Ao ver os fogos refletidos nos olhos da minha mulher, percebi que tinha me preocupado à toa; ao fazer parte daquela festa, me dei conta que milhares de pessoas não vinham até o Rio naquela data em vão; a festa era inesquecível, os fogos, talvez, o melhor espetáculo que eu tinha assistido na vida.
Sim, eu estava reformulando os meus conceitos. O Rio não era apenas lindo, a cidade também estava organizada, preparada para toda aquela gente, que avançava, numa onda de idiomas diferentes, faces estrangeiras e brasileiras, massa de sorriso no rosto e satisfação no olhar.
É claro, que eu sabia, que em algum lugar daquela cidade, havia pessoas que, talvez, não estariam tendo a mesma experiência que eu; pessoas que ajudariam a contar mais uma das histórias que alimentam o estereótipo que o Rio é uma cidade extremamente perigosa. Pode até ser, mas para nós, pelo menos ou pelo mais, aquela viagem estava sendo "maravilhosa".
Nos dias sequintes, fizemos todos os passeios turísticos que tinhamos direito: fomos ao Pão de Açúcar, andamos no bondinho que sobe do centro ao bairro de Santa Tereza, tomamos banho em Ipanema, e por lá foi e por aí vai. E fui, pouco a pouco, percebendo que sim, o Rio continua lindo, apesar da má propaganda, apesar da criminalidade, apesar de nossos políticos; e que os cariocas tem razão ao terem orgulho de sua cidade, pois não há no mundo local mais encantador.
Voltei a São Paulo, convertido! Agora rio do medo que eu tinha, pois mudei a minha opinião sobre viajar para fazer turismo na cidade maravilhosa, e recomendo a todos que nunca foram ao Rio que façam o mesmo. Não esperem até ter um bom motivo para ir... seja janeiro, julho ou dezembro, coloquem o Rio em sua lista de locais que merecem ser visto.
Só espero que o próximo desejo da minha esposa não seja ir para Bagdá...