2 Anos em 3 Noites
Ele demonstra o afeto por mim puxando meu cabelo e enfiando as unhas na minha gengiva. Demonstra trazendo o celular pra mostrar o jogo de carrinho e esticando os braços querendo vagabundear pelas redondezas. Demonstra puxando meu cabelo enquanto dá chutes no meu queixo. E não me deixou dormir, o safado interesseiro. Fiquei sabendo que somos lindos, juntos. Será?
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Foi bonita a forma como você fez aquele pedido inusitado. Eu confesso: esperava algo do tipo. Não o pedido, mas o que foi pedido. Entende? Desde o chopp fiquei com vontade. Pergunta pra ela, que não compareceu ao evento por força maior - o que foi uma pena e uma grande falta, diga-se de passagem. Esse lance é estranho. É meio que extemporâneo o ser-e-não-ser dele. Governos foram trocados, pipocaram novos ídolos da música no mundo, programas de televisão surgiram e se extinguiram e a coisa continua acontecendo como se tivéssemos parado no tempo, por mais que ele seja inclemente com o seu serviço de nunca parar. O que torna o enlace especial. Esse enlace sem laço. Esse enlace de nó frouxo, nó efêmero atado com força quando sucumbimos ao que queremos e que enfraquece quando nos enveredamos pelos nossos próprios caminhos, "longe" um do outro, de costas um pro outro. Não que eu queira realmente entender o significado disso por inteiro, mas fico curioso pra saber pelo menos 10% do que tudo isso significa. É errôneo atribuir uma nomenclatura cósmica para algo terreno que não se pode explicar e nem entender?
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Acordei no meio da madrugada. Senti-me sufocado. Minha cama está pequena. Minha coluna dói. Faz frio na minha testa. Testa colada na parede. Claustrofobia na minha cama. O barulho da chuva do lado de fora. Chuva forte. Chuva que hoje não me interessa, já que é boa para as coisas que vivem sozinhas. Esboço um sorriso e fecho os olhos. Estou bem acompanhado na minha caminha apertada. Chove lá fora, faz frio e temos um dia inteiro de preguiça pela frente. Adormeço na santa paz de uma criança.
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Death in Vegas - Help Yourself