Crônicas do Zé - Ano Novo

Adeus ano velho, feliz ano novo, que tudo se realize no ano que vai nascer, muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender, êêêê! Trinta e um de dezembro, e como tinha sido combinado pelos parentes do Zé, todos passariam a virada juntos. Casa cheia novamente e o coitado do Zé querendo se esvaecer como o vento.

Logo de manhã começou a movimentação, todos chegando fazendo algazarra e já planejando como será a última noite do ano. Mulheres e crianças vão para praia, homens para o mercado e o Zé em casa. Ele não pretende participar de nada, ele pretende sumir, sai de casa em busca de sossego, mas só encontra ruas cheias e música alta em todos os lugares. Antes tivesse ficado dentro de casa enquanto ela estava vazia e é justamente isso que o Zé pensa, mas quando chega em casa todo mundo já voltou... O chão da casa está molhado de água do mar, a toalha de rosto encharcada e o sabonete cheio de areia... Quer comer, mas a cozinha está cheia de gente preparando os quitutes da noite; quer dormir, mas o barulho é alto demais; quer sair, mas lá fora o caos está a solta; então o jeito é “se molhar na chuva”.

Churrasco rolando solto com pagode no volume máximo, tudo é festa! Zé assiste aquilo tudo com uma expressão estática e não consegue pensar numa forma pior de se terminar o ano... O último sol do ano vai se despedindo do céu e todos vão escolhendo as roupas brancas, está chegando a hora! Em grupo caminham para praia, uns mal conseguem andar por causa de tanto álcool no corpo e os mais sóbrios carregam o isopor cheio de goró para continuar a bebedeira. Na praia o showzão de axé já começou, os bebuns caem no rebolado e assim segue a noite. Eis que as luzes do calçadão se apagam a vocalista barriguda começa a contagem regressiva: “Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um e zero! Feliz ano novo!”. Começa a queima de fogos, as oferendas que deixam a praia imunda são lançadas ao mar, o bebum ao lado molha o Zé com sidra e todos começam se abraçar! Hora de pular as ondas, os bêbados mal conseguem andar quem dirá pular ondas, caem e bebem água salgada, o Zé ri de longe e pensa que pelo menos aquela cena valeu a noite. Fim dos fogos e todos voltam para casa para mais uma rodada de churrasco, para o Zé já deu, seu cansaço é tanto que ele dorme mesmo com todo aquele barulho.

Acorda de manhã e olha pessoas dormindo por todos os cantos da sala, mas o Zé sabe que dentro de horas todos acordarão para mais um churrasco barulhento e com todo seu pessimismo pensa:

_ “O ano terminar daquele jeito é justificável, mas começar do mesmo jeito é um sinal que será tudo igual denovo...”.

Vinicius de Oliveira
Enviado por Vinicius de Oliveira em 02/01/2011
Reeditado em 17/02/2011
Código do texto: T2705289
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