COLETIVIDADE

Eu não sei qual era o bode, mas naquele dia meu pai estava uma fera. Ele chegou do garimpo, devia estar muito cansado. Estávamos todos na fazenda, meus irmãos, eu e nossa mãe.

Era quase noite. A mãe tentava preparar o jantar. Digo "tentava" porque a filharada a atormentava tanto que ela estava muito nervosa. Não me recordo exatamente quais eram os que estavam a esquentar o clima dentro daquela pequena e humilde casa. Deveriam ser uns oito pirralhos, talvez mais, na faixa dos zero aos treze anos de idade. Alguns brincavam, outros brigavam, outros choravam e outros resmungavam agarrados às pernas de minha mãe. O certo é que se minha mãe queria silêncio, ela, definitivamente, estava no lugar errado, e, era tudo que ela queria. Queria apenas um pouco de sossego, como sempre nos dizia.

A minha pobre mãezinha estava a ponto de explodir, quando, por fim chegou meu pai. Mais do que depressa ela pediu socorro, lá do seu jeito, e meu pai muito solícito a atendeu.

Ele começou por desatar o cinto, arrancá-lo de suas calças e iniciou a tarefa de dar um basta naquela bagunça. Foi uma tunda coletiva daquelas! Inesquecível! Tá certo que me lembro de menino pulando a janela, correndo, arrumando um servicinho de emergência, ou fazendo carinha de santo, só para não apanhar. Eu mesma não sei como me safei desta! Porém, o pau comeu e quem não apanhou deve ter se mijado de tanto medo!

O bom é que depois da surra coletiva, minha mãe teve o sossego merecido e conseguiu terminar o jantar. Comemos tudo, bem caladinhos, fomos direto para a cama e, por um bom tempo, moderamos na baderna dentro de casa. Afinal tem um montão de coisas que é legal de fazer em comunidade, mas, apanhar? Alto lá! Isso não, né?!

DoraSilva
Enviado por DoraSilva em 02/01/2011
Código do texto: T2705173
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.