A cidade e o galo de Barcelos

Hoje, dia 30 de dezembro, eram dez horas da manhã quando cheguei em Barcelos, uma bonita cidade situada no norte de Portugal, inserida no distrito de Braga.

Quem visita Barcelos pode verificar que é uma cidade alegre e risonha, tal como o são as gentes do Minho. A cidade é banhada pelo rio Cávado e é também sede de um grande município com 89 freguesias (é o concelho com maior número de freguesias em todo o país), bem no coração da região Minhota, muito famosa pelos seus produtos artesanais, mormente de olaria e cerâmica, com o famoso Galo de Barcelos, já transformado em símbolo nacional.

Esta cidade, pequena e agradável, é, segundo muitos autores, uma povoação antiquíssima habitada desde o paleolítico e sede de concelho no tempo dos romanos. Controversa é a origem do seu nome. Alguns estudiosos defendem que vem da "barca-Celani", eventualmente a denominação mais antiga do rio Cávado, outros dizem que vem de "barcela", designação popular no norte de Portugal e na Galiza , que significa "terra ribeirinha e plana".

Indiferente às questões teóricas, Barcelos cresceu, tornando-se no que é hoje o maior município de Portugal. Foi no séc. XII que sua história começou, primeiro quando, em 1140, o primeiro rei português, D. Afonso Henriques concedeu- lhe foral e a tornou vila e depois quando o rei D. Dinis, em 1298, quis compensar o seu mordomo-mor João Afonso e o tornou conde, doando-lhe a povoação em título.

Em 1385, o Condestável Nuno Álvares Pereira tornou-se o 7º Conde de Barcelos. Entregaria Barcelos como dote no casamento da filha D. Beatriz com D. Afonso, bastardo do rei D. João I.

Começou então uma época de grande desenvolvimento e dinâmica para Barcelos, revelado com a construção da ponte, a muralha, de que resta a Torre da Porta Nova, do Paço dos Duques e da Igreja Matriz.

São estes monumentos que constituem hoje o centro histórico da cidade que mantém um agradável ambiente medieval pontuado por solares e casas históricas como o Solar dos Pinheiros ou a Casa do Condestável.

Este passeio a Barcelos não poderia dispensar, também, uma visita ao local onde se encontram as setecentistas Igrejas do Bom Jesus da Cruz, e da Nossa Senhora do Terço e o Campo da Feira onde se realiza uma das maiores feiras de artesanato e também uma das mais animadas e coloridas feiras de Portugal. Realiza-se semanalmente às quintas-feiras e atrai gente de todo o Minho e hoje, como todas as quintas feiras, a cidade acordou mais cedo e o Campo da Feira encheu-se de cor e som. No mercado popular encontramos de tudo um pouco, desde os produtos da terra até ao artesanato típico da região. É um verdadeiro mercado no sentido medieval do termo: aqui vendem-se de tudo, desde os produtos do campo, frutas, legumes, alfaias, gado e tudo o mais que se possa imaginar, não faltando bons petiscos da região e, é claro, as famosas louças e o emblemático... galo de Barcelos, no meio de uma balbúrdia e de um colorido inesquecíveis.

A cidade é famosa pelo seu artesanato em olaria, pelo que, não só nas feiras, mas também em toda a cidade podem ser encontradas muitas lojas de artesanato com autênticas obras de arte.

De visita obrigatória são também as ruínas do Paço dos Duques de Bragança ou dos Condes de Barcelos onde está instalado o Museu Arqueológico. O Museu de Olaria e o Centro de Artesanato são grandes pólos de interesse turístico.

E porque falei nos bons petiscos da região, não poderia deixar de falar um pouco sobre uma das expressões culturais que mais diferencia uma região: a gastronomia.

A gastronomia desta região encerra saberes, costumes, tradições e os segredos que fazem parte do patrimônio do seu povo. Em Barcelos a gastronomia tradicional não deixa de estar bem representada através de variadíssimas tasquinhas e restaurantes de cozinha tradicional minhota, que se espalham pelo concelho e que celebrizam um variadíssimo cardápio marcado por fortes e apurados sabores. Entre os mais tradicionais destacam-se os rojões, o frango, o pato e as papas de sarrabulho confeccionados das mais diversas formas, capazes de agradar os paladares mais exigentes. O Galo Assado é um dos principais pratos tradicionais de Barcelos. O bacalhau, o polvo assado na brasa e a vitela assada também fazem as delícias dos apreciadores.

Os vinhos verdes típicos da região têm neste concelho uma produção significativa, de tal forma que dão nome a várias marcas. Aqui existem produtores com rótulo, que em muito dignificam o “Verdasco Barcelense” e que continuam a levar o seu nome a todos os cantos do mundo.

Para além da excelente gastronomia, o concelho de Barcelos é também extremamente rico em doçaria tradicional, com características muito próprias e de elevada qualidade, destacando-se os famosos doces de romaria, laranjinhas doces, queijadinhas, sonhos, leite-creme com chila; pudim caseiro, pão-de-ló, entre muitos outros.

Quem visitar Barcelos no princípio de Maio, poderá assistir à famosa Festa das Cruzes, quando as ruas são atapetadas de milhares de flores e há ranchos folclóricos, fogo de artifício e uma solene procissão religiosa.

Aconselho uma visita demorada a esta bonita e acolhedora cidade. Um local óptimo para descansar e ouvir a natureza. Ficarão surpreendidos certamente.

A Lenda do Galo de Barcelos

A lenda conta que um peregrino da Galiza que se preparava para abandonar Barcelos em peregrinação até Santiago de Compostela foi acusado de roubar e condenado a morrer na forca. O peregrino ao proclamar a sua inocência ao juiz, que se preparava para comer um galo assado, disse que o galo cantaria como prova de que nada este peregrino tinha roubado. O juiz não o acreditou mas, no momento em que iam enforcar o peregrino, o galo ergueu-se e cantou. O Juiz, ainda a tempo, compreendeu o seu erro, correu para a forca e descobriu que o galego se salvara graças a um nó mal feito. De acordo com a lenda, o galego voltou anos mais tarde para esculpir o Cruzeiro do Senhor do Galo, hoje em dia presente no Museu Arqueológico de Barcelos.

Ana Flor do Lácio (30/12/2010)

Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 02/01/2011
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