UMA DECISÃO DEFINITIVA - história da educação

Uma decisão definitiva

Essa é uma das muitas histórias que ouvi no meio em que trabalho: a educação. De fato, foi-me contada como verdadeira por um professor de Matemática, muito amigo meu, que trabalhava no local. Hoje já até podemos citar o colégio: o Decisão, de Santos.

Contou-me o meu amigo que, certa feita, numa aula no terceiro colegial, um professor começou a se incomodar muito com meia dúzia de garotos sentados no fim da classe, a famosa turma do “fundão”, para quem é do ramo.

O professor, incansável, insistia na sua aula e o pessoal do fundão insistia na conversa. O professor olhou, os guris pararam, o professor continuou a aula, os guris voltaram à conversa. O mestre pára de novo, os moleques também. Ficaram três ou quatro vezes nesse pára-continua, sem que o professor tivesse dado uma daquelas broncas que às vezes damos numa turma.

Num dado momento, o professor, aparentemente sem perder a calma, simplesmente se dirigiu ao grupo, apontando um a um:

- Você, você, você, você, você e você, todos, retirem-se da minha aula e nunca mais voltem enquanto eu for professor aqui.

Os meninos resmungaram, resmungaram, pediram desculpas, tentaram argumentar que não eram eles, que não fariam mais, porém não houve jeito. O professor estava irremovível de sua decisão. A classe na expectativa, esperando o desfecho. O professor impassível aguardando a retirada da molecada. Aula parada, suspense, decisão definitiva. Os garotos viram que não tinha mais jeito e resolveram se retirar, diretamente para a sala do coordenador.

O coordenador - sujeito do ramo, na visão do professor; sujeito implacável, na visão daqueles alunos - resolveu apoiar o professor e bancar a situação. Resolveram o problema internamente, os alunos nunca mais assistiriam às aulas daquele professor. Fariam, no entanto, todas as avaliações que ele desse, para as quais estudariam por conta própria ou com professores particulares. E assim foi o ano. Os moleques estudaram mais do que ninguém e conseguiram aprovação, com muito esforço mas chegaram lá e se formaram com o resto da turma.

No ano seguinte, o mesmo professor estava dando sua aula tranqüilamente, só que agora no cursinho Decisão, do mesmo grupo educacional. Fala aqui, fala dali, explica, comenta e a turma em absoluto silêncio, como convém a uma turma que pretende prestar vestibular. Tudo seguia seu curso. De repente o professor pára, fixa os olhos em dois guris que estavam sentados mais ou menos no meio da classe, franze a testa, fixa melhor os olhos e reconhece. Sim, eram dois daqueles seis do ano passado!

- Eu não mandei vocês saírem da minha aula no ano passado?! – disse entre admirado da ousadia dos meninos e certa ira!

- Sim, responderam em uníssono os dois garotos! E meio gaguejante, um deles! – Mas foi no ano passado, no colegial, agora somos diferentes! – falou com ênfase na argumentação de que tinham mudado de postura.

Entre explosivo contido e calmo forçado, o professor respondeu na bucha:

- Isso não me interessa. Minha decisão do ano passado vale para todo o sempre em todo o território nacional. Caiam fora da minha aula!

Prof. Leo Ricino

Maio de 2004

Leo Ricino
Enviado por Leo Ricino em 02/01/2011
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