Aquele que escreve
Queria poder escrever algo que, de fato, falasse por mim. Algo que imprimisse no papel o que eu venho tentando há tanto tempo, desde que me lembro escrever. E, acreditem, isso é muito tempo.
Eu escrevo porque estou tentando encontrar formas desesperadas de transmitir o que eu sinto.
Às vezes eu sou incapaz disso.
Sempre.
O escritor é, na verdade, um mal compreendido. Não por culpa dos outros, mas por culpa dele mesmo. Então, ele procura outros meio de usar a palavra: novas histórias, novas crônicas, novas poesias.
E só ele é capaz de fazê-las.
Esse bandeirante solitário que foi o único que teve que desbravar a linguagem e, dentro dela, encontrar seu próprio dialeto.
Todas as outras pessoas já nasceram sabendo falar. Sabendo comunicar.
O escritor, não. Ele teve que falar muito mais do que as pessoas comuns, teve que utilizar muitas palavras a mais do que seria realmente necessário.
Um homem que nunca se sentiu contente com as respostas curtas que lhe davam, e que não se satisfazia com perguntas simples. É, sim, esse pobre infeliz, que não sabia falar. Nem ouvir.
É um filósofo do nada. Um complicador dos fatos. Um criador de ventos.
O escritor não desenha letras.
Ele as transforma em algo muito além do que elas são.
Reinventa a linguagem, faz malabares com as sílabas.
Feliz é aquele que o lê. Porque o leitor é aquele que entende o escritor antes dele mesmo se entender.