Aquele que escreve

Queria poder escrever algo que, de fato, falasse por mim. Algo que imprimisse no papel o que eu venho tentando há tanto tempo, desde que me lembro escrever. E, acreditem, isso é muito tempo.

Eu escrevo porque estou tentando encontrar formas desesperadas de transmitir o que eu sinto.

Às vezes eu sou incapaz disso.

Sempre.

O escritor é, na verdade, um mal compreendido. Não por culpa dos outros, mas por culpa dele mesmo. Então, ele procura outros meio de usar a palavra: novas histórias, novas crônicas, novas poesias.

E só ele é capaz de fazê-las.

Esse bandeirante solitário que foi o único que teve que desbravar a linguagem e, dentro dela, encontrar seu próprio dialeto.

Todas as outras pessoas já nasceram sabendo falar. Sabendo comunicar.

O escritor, não. Ele teve que falar muito mais do que as pessoas comuns, teve que utilizar muitas palavras a mais do que seria realmente necessário.

Um homem que nunca se sentiu contente com as respostas curtas que lhe davam, e que não se satisfazia com perguntas simples. É, sim, esse pobre infeliz, que não sabia falar. Nem ouvir.

É um filósofo do nada. Um complicador dos fatos. Um criador de ventos.

O escritor não desenha letras.

Ele as transforma em algo muito além do que elas são.

Reinventa a linguagem, faz malabares com as sílabas.

Feliz é aquele que o lê. Porque o leitor é aquele que entende o escritor antes dele mesmo se entender.

Alessandra Martins
Enviado por Alessandra Martins em 22/10/2006
Reeditado em 01/12/2006
Código do texto: T270374
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