Ano Novo, Vida Nova
Uma boa analogia é comparar o ano novo com a varrida na casa no fim de festa, cuidadosamente, toma-se a vassoura e inicia-se a varrida, cada cantinho, passo a passo, além da poeira deixadas pelas solas dos sapatos dos brincantes, confetes, balões, descartáveis plásticos, etc...Se Junta toda a multidão de resíduos, joga-se numa lixeira próxima e tudo está como novo.
Nesta época não é diferente, a impressão que se tem é que o que se passou no decorrer do ano, frustrações, erros e até esporádicos acertos, tudo será automaticamente varridos e esquecido, enquanto meninos ou ainda jovens tudo o que nos ocorreu se nos parece fulgaz e passível de modificação pelas próprias forças, é óbvio que tudo é culpa considerável de uma fértil imaginação; enquanto se cultiva tais ilusões, senhores e senhoras do seu tempo e nariz, a perspectiva é e será sempre vindoura, e o passado uma mera ocasionalidade que a busca pela felicidade impõe que se varra constantemente, mesmo que ali para sempre permaneça embaixo do tapete.
Com o tempo se indo incessantemente, e contando-se ano a ano, descobre-se o contrário, o que nos ocorre no decorrer dos anos não nos abandona com tanta facilidade senão apenas na força imaginativa do próprio pensamento, não mudamos de casa, nem de família, nem de cidade ou mesmo os amigos, também não podemos interferir nas fatalidades e ocorrências que no excedem a particularidade; tudo tende a ser exatamente como antes, nada em absoluto será diferente, nos tornamos pouco a pouco cônscios disto, mesmo não aceitando, somos forçados pelas marchas dos acontecimentos a engolir-mos e submeter-nos.
Na verdade esta marcha forçosa da imaginação jovial em direção a si mesmo, não é de todo perversa, longe de ser nociva, traz em seu bojo, a razão de que se deve valorizar o que se construiu e o que se ocorreu como suporte para existência atual ou vindoura, é olhar para sua casa velha e ter orgulho que esta lhe tenha abrigado durante os invernos, e olhar sua esposa e filhos e perceber o quão pouco se fez por eles, da mesma forma que seus amigos, sua cidade e seu mundo; lembrar-se do quão mesquinho a vida te fez na ância de reconstruí-lo segundo a sua vontade e fazer diferente; ganhe menos dinheiro, ame mais as pessoas, proteja mais os animais e não mais corte ou queime a árvore do seu quintal, faça diferente; não foram as circunstancias que te foram nocivas, foi você que foi nocivo em determinadas circunstancias, depois vá ao seu culto espiritual, a ceia, a champanha, as superstições, a queima de fogos.
Feliz ano novo, feliz vida nova.
por Nelson A. R. Corrêa