A lagosta do Marimbás
A lagosta do Marimbás
Na década de 60 meu Pai se associou a este clube que á época era o “ must “ da nata social de Copacabana. Clube pequeno, no posto 6, abaixo do forte de Copacabana, desfruta de vista previlegiada e guarda barcos que dali saem para a pesca submarina, motivo de sua criação. Até hoje lá existe, recomendo uma visita !
O velho era um homem de vanguarda, teve o primeiro Karmann Guia na cidade ! Fica orgulhoso quando as pessoas estavam rodeando o carro, com olhar curioso. Esses fatos me marcaram, mas pelo peito inflado do contador do que pelo ato em si. Tinha que ser sócio de um clube privado e que oferecia o baile do Popaye, famoso por mulheres extravagantes, bebidas e lança perfume.
Copacabana era o bairro da moda, eu menino passeiava de carro com meus irmãos aos domingos, via o povo na av. Atlântica, arrumados, sapatos novos, vestidos coloridos. Ganhava um Algodão doce e voltava para a rotina: Meu Pai não gostava de crianças, fazia a sua parte dominical e pronto, basta.
Já maior, vim a conhecer o Marimbás aonde ele ia tomar seus Whisques com amigos na varanda, eu ficava na praia em frente e via os barcos chegando com peixes para a venda na calçada, minha mãe comprava. Um pouco mais velho comecei a desfrutar da lagosta : Os mergulhadores traziam lagostas frescas para a cozinha prepará-las, delícia dos deuses meus caros ! Antes de ir nós ligávamos para o clube, confirmando a presença do nobre crustáceo, marcando mesa na varanda. Me lembro de chegar com meu pai ao volante e um negão ( da maior qualidade ! ) nos receber vestido de comandante de navio ! Roupa impecável, luvas e a cordialidade que só o povo rico conhece, abria a porta e estacionava, era assim, muito “ chic “ . Tinha uma rampa de cimentado vermelho que chegava na varanda, a vista já começava a incomodar; a praia, as redes de vôlei em frente, barcos e banhistas margeando a princezinha do mar, Copacabana dos bons tempos, me incantava. Sentávamos em mesa redonda de frente para um janela vendo as delícias praianas e pedíamos a lagosta na manteiga. Ela chegava, linda, dourada, branca e macia. As batatas nadavam ao redor, faziam um balé lindo de se ver e comer. Quentes ! Eu sempre me queimava, era a gula e o desejo de comer o impossível, a lagosta fresca do Marimbás. Meu Pai fazia desse evento uma comemoração rara ! Poucos tinham esse direito de desfrutar da melhor comida, melhor vista do Rio de Janeiro e da melhor companhia : ELE . Sim, meu Pai sabia do riscado, era bom de marketing, um Deus que elegeu seu Olimpo na orla de Copacabana, eu me sentia um príncipe, com aquele sabor indecifrável do prato único, manjar dos deuses, a lagosta do Marimbás...
Roberto Solano