As meninas de Aracaju
As meninas de Aracaju
Dia 17 de Dezembro de 2010, rumo á Recife, festas de fim de ano, família. Chego ás 19:00 hs, chuva forte, nada de táxi, aeroporto internacional, lotado ! O mundo volta às origens, penso, todos querem sentir o calor da terra e da alegria de rever o lindo povo nordestino. Idéia genial ! Vou para o desembarque e “ pesco “ um taxi de algum Paulista de retorno, ou de um gringo “ sex-tour “ em Recife.
Uno Mille, velho e mais velho ainda o motorista, magro, esguio, óculos de grau, cabeça grande de bom sertanejo, gente boa. Amigo, você pode me levar em Boa viagem ? O cansado me responde “ Estava voltando prá casa, doutor... “ Eu apelei : “ óia, to com uma saudade arretada da veia, pense no aperreio da bichinha... “ Golpe perfeito, Ipon ! O veio abriu a guarda e disse “ Borá ver a véia “ Entrei com malas e presentes no pontentoso veículo 1.0, rumo ao mar, av. Boa viagem, maravilha... Até descobrir que Recife mudou, cresceu, pêra um pior cenário de carros parados, transito, confusão e chuva, muita chuva. Perguntei : “ Tu vais margeando o Tietê ? “ O velho era meu surdo ( ainda bem ) e não enxergava nada. Tome água e susto na Imbiribeira, viaduto Trancredo Neves e parou. O mundo estava invertido, em Recife mas com a sensação de estar em Sampa, parado , sem assunto. Qual seu nome ? Moiséis. Daonde tu vens ? Bonito. Quantos anos ? O cabra olhou prá mim e arriscou “ O Doutor acha quanto ? “ Chutei legal, ele era um velho empinado, mas vou arriscar por cima : 75 anos ! Bote mais, bote mais... Aí, amigos, eu vi que o homem era especial, disse “ sei não... “ Ele arrematou com um 81 anos bem vividos e ainda corro ! Gelei, medo, o velhote dirigia mal e se fosse correr eu iria desembarcar na chuva, pensei, corra não... Ele disse : “ É impossível não correr, ás 5 hs acordo de dou 10 voltas na pista de 300 m ! “ Não acreditei, velho firme e forte, sertanejo, solto na cidade grande, motorista engolido pelas águas e misturado em carros potentes, ele só, eu junto, feliz ! Agora sei que vou chegar, cabra da peste ! A corrida foi R$ 25,00, dei R$ 50,00, nada de troco, só um abraço bom e forte em uma lição viva de vida, coragem e fé, me senti bem, respirei a brisa do mar e agradeci ser filho de uma terra de homens de braço, lavoura, fome e milho, chuva e sol torrando, força de um povo que nunca perdeu e reclamou, sofrendo o pó que Deus deu, vivendo a fé maior, suor e família.
Minha cunhada agarrou uma conversa sem fim. Pernambucana que morou amizades em Aracaju, saudade tinha das amigas de lá, queridas, Jupiara, Juslei,Zarebe, Dorcelina, Joseneide ( apelidp Jose ) , Josanete ( jójó ) o Pai se chamava José e a Mãe Anete ! Comecei a rir, rir muito, mijando de rir ! Ela ficou assustada, eu mais ainda, não me controlei, parei para respirar e entendi que não era mais o nordeste que eu conhecia, o mundo virou, estamos globalizados ! Zarebe ??? Dorcelina ???
Sei não, cantei “ Aracaju, Aracaju... Toma banho no mar do Norte ou vai tomar banho no sul... “
Roberto Solano