Num botequim

Um homem entra num botequim para fugir da desenfreada balbúrdia que domina a cidade. Adentrou o botequim e pediu um cafezinho. Sentou-se junto à mesa e aos poucos, gole por gole foi deglutindo o café. O homem levantou a cabeça e deu uma olhada nos quatro cantos do botequim, como se quisesse dizer alguma coisa. Por trás do balcão estava um homem de meia idade, sisudo, calado. E o homem que tomava o cafezinho, pensava, pensava nas coisas da vida e principalmente nas coisas que deixara de fazer. De repente, retirou do bolso uma quantia em dinheiro para pagar o cafezinho, e em seguida, pediu um almoço.

Enquanto o almoço não saia, o homem sentado à mesa pensava nas coisas de sua vida. E enquanto esperava o prato feito, bebia com certo prazer um refrigerante bem gelado com a sofreguidão de um beduíno. O coitado homem não tinha mulher, não tinha filhos não tinha família e aceitava sinceramente, que não sentia falta ou precisão. Não costumava reclamar da vida, pois achava que era simplesmente a maneira que o destino lhe deu, ou Deus teria lhe dado para viver seus últimos dias. E assim, não podia fazer nada mais que fazia era se conformar e seguir em frente. Finalmente o senhor sisudo trouxe-lhe o almoço. O prato ainda fumegante. O homem sentia muita fome e via a sua frente a ração como de sempre. Benze-se e dá uma olhada em volta antes de começar a comer, com medo de aparecer alguma pessoa conhecida e sentar-se a mesma mesa. Na verdade, o homem não gostava de companhia alguma. Ele gostava sempre de estar só, pois a solidão era sua companheira. Lá fora, uma chuvinha intermitente molhava o chão seco, e prometia não parar tão cedo. Mas o homem não estava nem aí, tanto fazia como tanto fez. E fora assim sempre por toda sua vida. Pois vivera sempre assim, sem a menor preocupação e assim não se importava com nada. Como se fosse pegar o último ônibus da sua última viagem.

Aos poucos foi mastigando bem devagar o bife duro, o arroz em forma de grude e insosso. Não era costume andar por aí a reclamar, pois não era de seu feitio maldizer-se, por pior que fosse a situação. Aceitava tudo que lhe vinha à frente, pois a existência era melhor assim, despida de conflitos. Afinal achava que tudo tem um final, mesmo um belo dia se acaba, porque tudo tem sua hora final. O que haveria de vir, não tinha nenhuma preocupação e não fazia a menor questão de saber. Apenas vivia a vida, sem nada esperar dela, pois via a vida uma caixa de surpresa, uma linha tênue. Terminando a refeição, o homem fez uma breve oração e saiu do botequim vagarosamente e enfrentou a chuva sem se importar.

Gilson Pontes
Enviado por Gilson Pontes em 01/01/2011
Código do texto: T2702529
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