CRONICA PARA UM ANO DE SE VAI CEDO...
Daqui a pouco será o ano 2011. Enquanto um nasce o outro morre. Um pede socorro e o outro acode. Acordes tocam no centro da cidade a espera do novo inquilino do tempo, como que aclamando aos astros para nos capacitar para a paz e o amor. Ardor que a dúvida provoca no tom maior da melodia sem dó, porque assim caminhamos todos pelos becos e avenidas da cidade no afã de ser feliz. A felicidade enquanto estado de espírito, não mais na bola dividida do prazer dos corpos sarados e da eterna juventude. Facilidade que poderá nos credenciar para um estágio maior além do estabelecido pela transitoriedade terrena. Serena aventura que se desdobra no alinhavo entre o ter e o ser; entre o tudo e o nada; entre a crença dos simples e o agnosticismo de Sartre; entre os encantos da lua e os temores de Marte.
Daqui a pouco um novo tempo desvirgina a solidão das ruas. Despudoradas e nuas seguirão as pessoas sem rumo acreditando que a loucura da vida é a loucura do despudor, enquanto o pudor se dispõe na discrição dos mosteiros ao entoar cânticos para a mais nova oração. Ora, não são todos os dias as premissas da felicidade? Não são todos os dias as moradas das nossas angústias, dissabores, solidão, crenças, desavenças e desilusão?
Lá vem o novo ano como quem vem de Catende. Vem de trem. O ano velho vai danado pra Catende(*), vai danado pra Catende. Quem entende esse trem? Ele é a vida por si mesma em sua plenitude: ao nascermos surgimos para a luz no ano da graça que o Criador escolheu pra cada ser humano. Ao morrermos, O criador nos reservou outra data com a mesma natureza às avessas. Alvíssaras! Alvíssaras! Há lição no novo tempo. Um tempo com tempero de luz; uma luz com raios de tempo para acasalar minutos, segundos.
O champanhe está pronto para a nova era. Os fogos estão sem nenhum artifício para iludir a realidade que voltará a si com todo poder nos primeiros minutos do novo ano.
(*) Catende é uma cidade do interior de Pernambuco famosa pelo seu trem. Ela foi imortalizada por Ascenso Ferreira, poeta pernambucano conhecido nacional e internacionalmente.
Hoje, 31 de dezembro de 2010, estou em Bom Conselho - minha terra natal no interior de Pernambuco, 20h40.