Meu Recanto - crônica em homenagem a Campo Limpo Paulista - SP
crônica em homenagem a Campo Limpo Paulista - SP, onde morei 6 anos.
Cheguei aqui não faz muito tempo e já estou apaixonada por você.
Meu Recanto lindo, cheio de luz, repleto de calor.
Acordo de manhã com o sol entrando em minha janela – iluminando o meu mundo, tão pequeno, porém aconchegante.
Quando vim ao Meu Recanto pela primeira vez, comprar uma casa, eu queria uma casa grande com janelas largas,.... portas largas,.... espaços grandes,.... para garantir-me de bastante ventilação e claridade. Queria uma chácara com muito verde, um jardim e um pomar. Mas comprei uma casa pequena, com portas e janelas acanhadas – fiquei meio insatisfeita! Um pouco triste, decepcionada.
Mas hoje, vejo que no Meu Recanto, não precisamos de casa grande e nem de janelas largas, o sol entra por todos os lados, pelas pequenas frestas e o verde está em toda parte. O sol ilumina os campos e tudo parece festa. Com poucos moradores na vizinhança têm-se a sensação de paz e serenidade. As pessoas se cumprimentam. Conhecem-se pelo nome. Não somos um número como nas grandes cidades. Somos pessoas. Temos fisionomia, personalidade. Temos amigos, vizinhos, companheiros, conhecidos, colegas e até irmãos de fé. O meu recanto é ainda, apesar dos tempos modernos, habitado por gente. Os robôs da civilização ficam ainda distantes – em outros locais.
Estou apaixonada por você, Meu Recanto – amo o seu verde espalhado nas suas reservas naturais. Amo o seu sol que nasce luminoso logo de manhã e brilha até o entardecer num céu azul. Um azul, que de tão azul, nos fere os olhos, nos queima a pele, e isto há anos eu não via, ou melhor, desde que parti da minha Minas Gerais.
Amo as suas biquinhas de águas límpidas e transparentes – com sua insipidez – e sua pureza sem igual. Amo esse seu sobe e desce de colinas e morros, a aspereza do teu solo, a desorganização das muitas casas em construção, que se erguem, umas brancas, outra amarelas, muitas ainda sem reboco, com tijolo à vista, sem pintura. ‘São as marcas do pobre, construindo seu ninho, construindo o futuro’.
Amo este povo tão simples! – tão meigo! – tão receptivo!... – que aceita sempre com olhar benevolente o novo morador que vem para perto de sua porta.
Sinto-me aqui, jovem de novo, como menina ainda, cheia de esperanças, respirando um ar sem monóxido de carbono, tomando água sem cloro, vendo um sol de verdade, sem a cortina de fumaça da poluição das cidades grandes.
Ah! Meu Recanto, você me lembra a terra onde nasci, cheia de morros, sol escaldante, riachos, colinas, verde, muito verde, flores, muitas flores, campos que se estendem até onde nosso olhar não mais alcança, uma igrejinha para os fiéis, cercada de ciprestes e uma cancela branca, onde crianças correm daqui pra li, jogando bola, gritando asneiras, cachorro latindo, galo cantando nas madrugadas, cavalo a tropel, charretes, carroças, chácaras, sítio, casas, tudo misturado como uma coisa só, ricos e pobres vivendo pacificamente, sem constrangimento, sem preconceitos, sem medos.
Cheguei aqui há tão pouco tempo, e já entreguei meu coração! Gostaria de fazer-lhe mil versos – muitos versos, todos os dias – a cada amanhecer – a cada anoitecer e mandar compô-los em músicas sinfônicas que cantassem a sua beleza para sempre – para que as gerações futuras venham a saber, que vivi num lugar como este – que por certo não será o mesmo daqui a alguns anos – pois com certeza, também aqui, chegará a civilização com todos os seus benefícios e seus malefícios, tais como: – cultura, facilidades do comércio, mas também, poluição, criminalidade, falsidade, angústia e desespero, medos, fantasias, ilusões e também sonhos.
Mas por enquanto, Meu Recanto, você ainda é uma criança – repleto de ingenuidade, escondido entre as matas – cheio de esperanças, de alegrias e de sonhos de um novo alvorecer.
Aqui estou e aqui ficarei – aqui viverei, reconstruirei o meu passado e reorganizarei o meu futuro e aqui quero morrer, olhando o pôr do sol e respirando o seu ar puro e morrer com alegria por aqui ter vivido, mesmo que seja por uns poucos anos que me restam! Ou quem sabe, muitos anos que me restam!
Quero ter amigos, plantar as sementes dos meus sonhos, colher os frutos do meu trabalho, distribuir a esperança do meu coração, entregar a fé de minha alma.
Regina Célia (poetisa – autora do Livro Sublimação). Dezembro/1999