NINHO VAZIO
Nunca pensei que o vazio pudesse ter a capacidade de encher a minha vida, a minha casa e o meu coração, com tamanha amplitude. Hoje, depois de tantos anos, meu pensamento volta ao passado e me vejo, nova-mente, diante de uma ausência, um vazio enorme, quando fiquei longe dos meus filhos.
Quando a gente compra um apartamento, começa a pensar em como vai decorá-lo. Uma mesa aqui, um sofá ali, um som, quadros nas paredes, cortinas, plan-tas e tantas outras coisinhas que tenham significado para nós. Decorar uma casa é fácil. Pode-se comprar as coisas. Mas como se decora um coração? O que botar dentro para combinar com tanta ternura sem direção determinada? Quando meus filhos foram viajar, com a intenção de morar em outro país, eu achei que era uma coisa muito natural. Eles, afinal, tinham esse direito. As amigas me perguntavam como é que eu os deixei ir. Eu lhes respondia que não era uma questão de deixar ou não. Eles tinham esse direito. Eram pás-saros adultos e tinham que bater a plumagem - linda plumagem, por sinal, têm esses meus dois homens, tão diferentes um do outro e que tanto se amam - como toda ave já com condições de viver sua vida. Era uma coisa natural, mas não posso me acostumar com o vazio que eles deixaram. A casa sem barulho, sem roupas espalhadas, camisas sujas e limpas misturadas, toalhas molhadas em cima das camas, música alta, luzes acesas, TV falando sozinha e tantos outros de-talhes que eu reclamava, como a maior parte das mães. Reclamamos com a intenção de que eles en-tendam que a vida fica mais fácil se a gente tiver um pouco de organização. É mais fácil achar a tesoura no lugar em que ela sempre foi guardada do que em cima da geladeira, ou o alicate de unhas na gavetinha do banheiro em vez de entre as almofadas do sofá. Mas isso é perda de tempo. Só vão aprender com a vida. Experiência não adianta a gente querer passar. Não é como herança, não é como características genéticas. Experiência cada um tem que ter a sua. Cada um tem que aprender a caminhar caminhando. Não existe um mapa para o caminho da vida. Cada um tem que pro-curar o seu. É natural. É sofrido, mas é assim mesmo. Agora digo aos meninos que sinto falta da voz deles. Eles riem quando me queixo de que eles me aban-donam por muito tempo. Agora moramos na mesma cidade e passamos muitos dias sem nos falarmos. Eles são ocupados, bem sei, mas para o amor, sempre se tem tempo. Afinal, eu dediquei toda a minha vida a eles, gostaria que eles sentissem falta de mim, como eu sinto deles. Devo ter errado em alguma coisa. Eles não me imaginam triste porque sempre me viram bem humo-rada, dom que agradeço a Deus. Acho que filho nunca imagina que mãe sofre, tem tesão, goza, tem medo, chora de prazer ou de raiva. Mãe para os filhos não é ser humano, é uma coisa especial, acima do bem e do mal. Minha mãe costumava dizer, quando lhe fazíamos malcriações: vocês hão de ser mãe um dia! Ela dizia isso como que rogando uma praga, mas eu desejo que todas as mulheres sejam mães um dia, não como um castigo, mas como uma benção. Afinal os filhos nos dão muito prazer também. Embora achem que tudo que fazemos é nossa mais pura obrigação e que tudo que eles fazem para nós é um grande favor, vale a pena tê-los e eu gostaria de ter tido não dois, mas dez.