COMO E QUEM SÃO OS EDUCADORES E OS EDUCANDOS DA EJA – PARA REFLETIR
Wanderlice de Souza Carvalho
Constituir a identidade de educadores e educandos da EJA é o mesmo que montar um grande quebra-cabeça a muitas mãos, cada um na sua função ajuda o outro se firmar e se constituir. O educador sabe que seu trabalho numa sala da EJA deve usar uma metodologia diferenciada porque seu aluno precisa de uma forma diferente de colocar os conteúdos e os educandos sabem que o professor pode representar a porta de saída da marginalidade e de entrada para o mundo do saber científico.
O educador obterá sucesso se na sala da EJA trabalhar o conhecimento em sala de aula, de forma clara e totalmente contextualizada para que seu aluno possa ter a oportunidade de analisá-lo e questioná-lo, e não apenas absorver informações.
Quando se trata de alunos da EJA, o professor também precisa considerar a experiência e conhecimento que seu aluno já possui é o que Paulo Freire chamou de leitura de mundo, para transformar as informações já adquiridas por esse aluno em conhecimento científico.
Na sala de aula o aluno da EJA tem a oportunidade de expor suas idéias e sonhos, aquilo que manteve sufocado no silêncio a vida toda. É a recuperação da voz daqueles que, por muitos anos, estiveram silenciados, conforme afirma Arroyo (2004).
O professor propicia a exposição de ideias e assimila as lições de vida colocadas nas diversas situações ocorridas na sala de aula, então ele abastece seu conhecimento enriquecendo sua metodologia e devolvendo ao educando em forma de atividades que poderão ajudá-lo a tomar decisões ou resolver situações futuras. É como devolver idéias reelaboradas que proverão maiores chances de expressão e participação social. É dar voz a uma parcela da sociedade que teve uma importante função no desenvolvimento da nação, mas continua excluída do saber elaborado.
Ranciere (2005) afirma que o educador precisa estar consciente do verdadeiro poder do espírito humano para poder libertar seu educando ajudando-o a crescer ao ponto de transformar a própria realidade; reger seus próprios atos de maneira consciente e feliz.
Todavia, um educador só poderá emancipar seu educando se tiver emancipado a si mesmo, se ele próprio for capaz de compreender e interferir na sua realidade exercendo seus direitos e deveres conscientemente. O educador é o espelho do educando que ensina com atos, gestos e palavra e é observado e copiado pelo seu educando.
Freire (1996) enfatiza que ensinar alguém não é simplesmente entregar o conhecimento pronto e acabado na forma de perguntas e respostas, não é somente encher um quadro de tarefas e esperar que dali o educando tire lições de vida. É preciso ajudá-lo a interpretar suas leituras de mundo. Entender seu conhecimento e sua cultura para que prove para si mesmo que ele tem direitos e deveres como todos os cidadãos. É dar autonomia para que o educando de EJA usufrua de seus conhecimentos e associe-os aos conhecimentos científicos e com isso consiga ter consciência de que pertence ao mundo e nele deve agir porque esse mundo é por ele construído e de sua ação depende o futuro desse mundo seja melhor ou pior. É o que Freire (1996) pontua; criar possibilidades para sua produção e/ou construção.
É na sala de Educação de Jovens e Adultos que os educandos aprendem a olhar, explicar e agir no mundo que os rodeiam e de lá tiram a forma de se relacionar em sociedade por meio de determinados valores e conceitos.
É um engodo dizer que na sala de aula de EJA só acontecem maravilhas; tem pessoas alegres e tristes, calmas e nervosas como em qualquer outro lugar da sociedade, o que diferencia esse local dos demais são os propósitos ali colocados, para que no meio das emoções e sensações o conhecimento vai se organizando; vão se constituindo a identidade de educador e educandos.
É as expectativas e as demandas sociais que determinam o percurso sócio-histórico de todo o homem, por isso, as lutas para criar a igualdade de condições para todo cidadão; cabendo à escola atender a uma parcela social que até então esteve excluída dos seus projetos e planos de trabalho. Os educandos da EJA merecem ser concebidos como indivíduos que tem conhecimento, que contribuem e que transformam a sociedade no qual estão inseridos.