Aviso ou distração?
Deixei um bilhete preso na geladeira
Daqueles simplezinhos, e amarelo
Um ponto amarelo, num oceano branco
Daquele que avulta-se a vista quando passa rápido
Bem; disse que não demorava, que vinha pra cá
Aqui estou, mas a pensar:
O recado que deixei
Serve de aviso ou distração?
Sabe bem né? Meu marido, ele...
Tem o costume de ver as coisas
E achar que não é com ele
Essa hora mesmo
Deve estar se perguntando onde estou
Se é que notou minha falta,
Já diziam as velhas, todas as vezes que nos viam:
Um homem macerado depois de um dia de trabalho
Só pensa no arroz de hoje
E as patacas que virão amanhã!
E ele no que será que pensa?
O recado deixado realmente o recorda de algo?
Deixei ali o horário correto do remédio
Se fosse como eu, estaria vendo a todo instante
Pra não esquecer do horário e logo
Não precisaria olhar mais,
Mas como o conheço, é bem pelo contrário
Deve estar a todo instante se perguntando
Que viu algo diferente, mas nem sabe ao certo o que
Meu pai também vivia a dizer:
Um homem de dificuldades
Sabe amarrar a talha de forma que nunca solte
Não tenho dúvidas que assim seja
Mas ainda não sei se o aviso serviu como aviso
Ou serviu como distração
Antes não escrevesse, não escrevesse nada!
Porque o aviso que ia botar,
Olhando aqui na bolsa,
Acabei de esquecer.