Medo de ser feliz

Uma coisa que eu aprendi com meus relacionamentos: eu não sei brincar de felizes para sempre. Não sei explicar exatamente por que, mas essa coisa de felicidade eterna me aprisiona, me dá agonia. Chega até a me deprimir as vezes. Então eu sinto uma vontade imensa e incontrolável de jogar tudo pro alto e sair correndo.

Eu nunca conheci alguém que tenha pavor de ser feliz, nem alguém que corra atrás do sofrimento por livre e espontânea vontade. Eu devo ser mesmo muito maluca. É como se eu precisasse ser feliz em doses homeopáticas, intercaladas com doses de sofrimento pra me deixar mais forte e me ensinar a dar mais valor às coisas.

A primeira vez que eu larguei tudo foi com o meu primeiro namorado. Passei oito meses com uma pessoa incrível, o sonho de consumo de qualquer garotinha da minha idade mais ou menos romântica. Aquele tipo que mandava bilhetinhos no meio da aula e passava a tarde me fazendo companhia. E que me dizia o tempo todo o quanto eu era especial e importante pra ele.

Até que um dia eu acordei entediada com tanta perfeição, me sentindo agoniada com tanta alegria e nenhum sofrimento. Não foi culpa dele. Foi minha dificuldade em ser constante e me contentar em simplesmente viver o que eu tinha. Foi nessa época que eu conheci outro cara, o idiota que mudou a minha vida.

Joguei tudo pro alto sem nenhuma explicação coerente e resolvi navegar por outros mares. Não deu certo. Passei um ano inteiro comendo o pão que o diabo amassou. Nunca chorei por ninguém, mas aquele idiota conseguiu me fazer desabar no colo da minha mãe e chorar pela primeira vez na vida por causa de dor do coração.

Então eu decidi que era hora de voltar a ser feliz e reatei com o meu ex-namorado perfeito. Passou mais três meses até meu subconsciente resolver que era hora de sofrer um pouco mais. E apesar de ter resolvido que nunca mais iria chorar por aquele idiota de antes, reatamos.

Acontece que nunca mais é muito tempo e eu sofri pra caramba de novo. Bom pra largar mão de ser besta.

E essa foi só a primeira vez. Vieram outras depois. Atualmente ainda é assim. Esses dias eu estava conversando com um amigo e ele disse que eu só sei me apaixonar por canalhas. Disse assim, na minha cara, que basta eu perceber que alguém não presta pra cair de amores por ele.

Pior é que meu amigo tem razão. Por ter medo da felicidade que me sufoca, eu corro atrás dela onde ela nunca vai aparecer. Não posso perceber que as coisas vão bem, que eu jogo tudo pro alto pra ver se melhora. O problema é que na maioria das vezes só piora, e eu me arrependo de arriscar tanto.

Mas eu sou sim essa pessoa que arrisca. Que não se contenta com o que tem. Que sempre quer mais. Que tem sede de vida. Sede de histórias pra contar. Tenho horror à vida certa, pacata, programada. A vida planejada como se fosse uma guerra, onde cada erro pode ser fatal. Eu sou aquela que vai a luta, muitas vezes sem saber nem em defesa de que. Que não vive sem um desafio, uma barreira pra quebrar. Não tenho medo de largar tudo o que já conquistei pra conhecer o mundo lá fora. Faço isso quantas vezes forem necessárias, sabendo dos riscos e apostando mesmo assim. Porque como já disse certa vez Charlie Chaplin, “o mundo pertence a quem se atreve”!