VELHA GORDA
Que o brasileiro é doido por carro, ninguém duvida. Bater com o carro, sem dúvida, talvez seja um dos maiores dissabores para qualquer cidadão brasileiro. Imagine, bater o carro numa quinta-feira, dia 30.12.2010, logo pela manhã a caminho do trabalho.
Final de ano, como de praxe, todos nós estamos acelerados. Não sei por quê. Mas é fato. A nossa atenção fica mais dispersa. Talvez os muitos compromissos, a ansiedade natural pelo ano novo que se aproxima. O certo é que não funcionamos do mesmo jeito que nos meses anteriores.
Hoje, bem cedo, quando vinha para o trabalho, uma colega de trabalho teve a infelicidade de bater o carro. Um carro novinho em folha, modelo 2011. Para quem, como eu, gosta de carro, é um aborrecimento sem conta. Imagino a cena.
Ela, transtornada, liga para a repartição e pede que se faça contato com a perícia de trânsito, pois foi vítima de uma colisão nas proximidades do trabalho. Ela bateu em um ônibus. Dá para imaginar. Logo pela manhã, ônibus lotado, todos ansiosos por chegar ao trabalho, afinal, para muitos, hoje é último dia útil do ano.
Em ocasiões tais, é natural a troca de acusações sobre quem causou o acidente. E, nesse diálogo mais ácido, o motorista do ônibus terminou por chamar a minha colega de “velha gorda”. Ele não sabia com quem estava se metendo. O tempo fechou, literalmente. Por mais incrível que pareça, naquele momento, a batida do carro passou a ser irrelevante para ela. Mas a injúria não poderia ficar sem resposta. Para resumir, foi preciso a intervenção de terceiros para que a discussão não chegasse às vias de fato.
Fica a lição. É mais aconselhável chamar um homem de “viado” ou de “corno” do que chamar uma mulher de “velha gorda”. Fazer o que: são os valores vigentes.
Luis Gentil – Dez/2010.