Nosso Poeta nos deixou

Neste 21 de outubro encantou-se o nosso Sonetista Maior Waldemar Lopes, aos 95 anos de idade. Poeta simples e sensível, sonetista que fez escola, deixa-nos órfãos, todos nós, escritores pernambucanos e brasileiros. Deixa-nos um vazio que não se consegue preencher, por mais poesia que se tenha, por mais belos e melhores sonetos que escrevamos. Deixa-nos um legado, presente em suas tantas obras poéticas e memorialistas, com sua indefectível escrita, seus exemplos, sua atenção, sua posição firme. Seus exemplos de vida e de literatura hão de ser perpetuados por tantos de nós que privamos de sua amizade, intimidade – pessoal e literária – nos tempos que hão de vir sem a sua presença física.
Nascido em 1 de fevereiro de 1911, em Peri-peri, então município de Quipapá, hoje pertencente a São Benedito do Sul, Pernambuco, Waldemar Freire Lopes teve sua formação intelectual formada e firmada em vários campos de atividade em Pernambuco, Rio de Janeiro e Brasília, onde atuou em jornalismo (ótimo cronista e revisor primoroso), literatura (criou e participou de vários grêmios e academias literários), administração pública, economia, direito público internacional (esses últimos vividos na sua atuação profissional no IBGE e na OEA).
Como jornalista, teve atuação destacada no Jornal do Commercio (Recife), Associação de Imprensa de Pernambuco, A Noite (Rio de Janeiro), Revista Brasileira de Estatística, Revista Brasileira dos Municípios e de tantos outros órgãos da Imprensa nacional.
No Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi, entre outras atividades, Diretor da Secretaria-Geral, Secretário Geral do Conselho Nacional de Estatística, membro da Comissão Censitária e da Comissão Nacional de Política Agrária.
Na Organização dos Estados Americanos (OEA), onde atuou entre 1954 e 1976, foi diretor de seu Escritório no Brasil e representante de sua Secretaria-Geral junto ao Governo brasileiro.
Entre as várias instituições literárias a que pertenceu, destacam-se: Academia Pernambucana de Letras (onde ocupou a cadeira 20), Clube de Poesia de Brasília (onde foi presidente), Associação Nacional de Escritores, Academia Teresopolitana de Letras, Academia Brasiliense de Letras (onde ocupou a cadeira 13), sócio correspondente das Academias Alagoana de Letras, Paraibana de Letras e de Letras da Bahia. Ainda figurou como membro destacado no Pen Club do Brasil, União Brasileira de Escritores (no Rio de Janeiro e em Pernambuco), Academia de Letras e Artes do Nordeste, e Sócio Honorário da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional de Pernambuco.
Atuou, também, em Portugal, onde fez e deixou poemas, entre os quais se destacam os versos que figuram no monumento a Ferreira de Castro, tendo sido membro da Associação Internacional dos Amigos de Ferreira de Castro.
Desde sua residência em Brasília, já recebia amigos (juntamente com sua esposa Iracy) nos sábados, para reuniões literárias informais, que foram denominadas Sabalopes. Transferiu-se para Olinda e os Sabalopes continuaram. Após o falecimento de D. Iracy, fez uma pausa, mas o chamamento literário foi maior, e retomou essas reuniões no Recife. Para sua residência, nas manhãs de sábados, acorria a nata dos escritores pernambucanos, para privar de sua companhia e amizade, para trocar idéias entre si e, principalmente, para reverenciar este ícone da Poesia Pernambucana, que hoje nos deixa órfãos. Foi fazer companhia aos outros ilustres escritores que o precederam na presença do Pai.
Deixa-nos grande produção literária: Legenda (1929), Sonetos do tempo perdido (1971), Inventário do tempo (1974), Os pássaros da noite (1974), Sonetos da despedida (1976), Sonetos do Natal (1977), Elegia para Joaquim Cardozo (1978), O jogo inocente (1979), Memória do tempo (1981), Sonetos de Portugal (1984 e outras edições posteriores, 1994 e 2005), As dádivas do crepúsculo (1996), Cinza de estrelas (2001). Deixou inconclusas suas coletâneas de crônicas compostas ao longo de sua vida literária e profissional, que já compunham 3 volumes e aos quais dedicava seu tempo em revisão nos seus últimos dias conosco.
Sua vida material findou. Seu exemplo de vida continua cada vez mais vivo. Haveremos de fazer, agora sem o mentor, os nossos Sabalopes, que não podemos deixar fenecer com sua ausência. Haveremos de manter viva a chama da Poesia Maior, límpida, firme, precisa. Seu exemplo haveremos de seguir, onde quer que estejamos. Em cada linha de soneto, em cada crônica ou memória, estará ali a pena magnânima e sensível de um Waldemar alegre, forte, corajoso.
Paulo Camelo
21/10/2006