O Castigo dos Deuses

O castigo dos deuses

Quem já não ouviu quando criança, esta expressão Bachi ataru , dita pelos avós ou pelas mães, nas ocasiões em que praticávamos algo ruim, judiávamos de algum animal ou deixávamos de cumprir algum preceito sagrado, ligado à religiosidade.

Principalmente quando ligado à religiosidade não se deve brincar. Há fatos relatados por pessoas idôneas que assustam qualquer incrédulo. Depois que li o livro do empresário Sadaji Yoshioka “Cheiro de Tinta”, no qual relata acontecimentos fantásticos que ocorreram com ele não duvido de mais nada. Aliás, ele e a mulher percorreram o caminho de Santiago de Compostela. Foi diretor do Kiboo no Iê e toca com seus filhos seis empresas do Grupo Vox e é Pós-Graduado pela FGV.

Uma viúva idosa vivia só, mas tinha duas filhas, já casadas. Com a aproximação dos 25 anos do falecimento do marido, ela vivia alertando às filhas para que providenciassem a Missa já que para os budistas é uma data importante, que não se pode deixar passar em branco. Mas apesar dos reiterados pedidos para que as filhas fossem ao Oterá marcar o dia da Missa, já que ela idosa não conseguia se locomover com facilidade e fizessem os convites, o aniversário do falecimento passou sem que o ato fosse sequer lembrado pelas filhas. Como consolo, a viúva sozinha acendeu a vela e orou pela alma do falecido ante o butsudan – oratório budista.

No entanto, mas tarde chamou as filhas e deu-lhas aquela bronca em ambas. Vão ver como bachi ataru – o castigo dos deuses virá, proclamou.

Elas não se incomodaram nem um pouco com a praga da mãe.

A mais velha gostava de dançar. Os filhos estavam independentes. Com o marido, duas vezes por semana freqüentava o shakô dansu dos clubes da Liberdade, onde sentia orgulhosa de exibir a coreografia que aprendera com muito custo e causava admiração. Num desses fins de semana, indo em caravana a Bastos, uma pequena cidade do interior, estava dando uma das suas piruetas no clube local, pisou em falso e caiu pesadamente. Resultado: necessitou sofrer operação e ficou três meses com a perna engessada no horizontal. A mãe foi visitá-la e não hesitou em exclamar: bachi ga atata –foi castigo. A outra filha que estava presente, protestou pela indelicadeza da mãe, dizendo que tudo era bobagem, que não acreditasse naquilo.

Não é que transcorridos algumas semanas, a filha da mais nova, de cinco anos, estando em casa só com a empregada, engoliu uma tampinha de refrigerante. Num repente ficou roxa. E apesar de levada às pressas ao pronto socorro mais próximo, ela entrou em óbito.

Na missa do 49º dia da menina foi também celebrado o 25º ano do avô. No final, quando cantaram Mihotokeni Idakarete muitos não contiveram as lágrimas.

Yoshikuni
Enviado por Yoshikuni em 29/12/2010
Código do texto: T2698165