24-12
Às vezes dizer o que se sente, expressar em vias orais. Muita gente me diz que a palavra é a maneira mais fácil e diplomática de expressar ideais, desejos mais íntimos ou públicos. Na palavra, no discurso há força, expressão, vontade, vida, dinamismo e entonação. Mas eu me pergunto, somente na palavra?
Fernanda Montenegro, Dama do teatro e cultura Brasileiros que me perdoe e até mesmo Obama, grande comunicador e dito salvador da raça americana, que tem no seu passado o hábito não muito conhecido de debruçar-se sobre um mundo de linhas e construções particulares, porém arrebatadoras que é a escrita, assim como eu.
Mesmo assim, muitas vezes ainda surgem reboliço, dúvidas sobre o caminho a seguir, escolher ou sonhar. A necessidade de confrontar desejos, vontades e realidade mais dura e conhecida nos faz murchar a alma. Os olhos antes preenchidos por sonhos e projetos se vêm deparados com dívidas, somas e mais somas mensais; tudo uma operação matemática decepcionante: somam-se os sonhos, multiplicam-se as vontades, divide-se pela realidade e diminui-se a vontade de viver!
Como se amontoássemos caixas e mais caixas contendo o que vislumbrarmos por anos a fio sem sucesso ou realização por fatos diretos e indiretos. O mundo atual urge e ruge por mentes versáteis, abertas, mas a desvalorização do que não é dito clássico, rotineiro e já conhecido, ou empecilhos da sobrevivência imposta pelo mundo real nos faz cada vez mais seres apertadores de botões, recipientes vendados pela santa ignorância de massa diária.
Infelizmente o que se planeja muitas vezes não se realiza para muita gente, mas graças aos seres de mente ávida e sentimento peculiar, a vontade por mais maquiada e minúscula resiste em caixas, cacholas em meio de tempos de recessão e pensamentos.
Entretanto, cada um encontra prazer naquilo que julga ser mais verdadeiro ou reflexo de si. E com isso, Fernanda há de concordar: O ser humano muitas vezes tem a necessidade; as mais absurdas que sejam para expressar o que sente. A necessidade de estar na forma, cor, embalagem seguindo o tal lendário e cobiçado manual de como se viver a vida faz com que tudo se torne igual. E para quem pensa que isso só é notado em meios ditos intelectuais e de leitura aplicada, engana-se! Até mesmo na Moda não está com nada combinar sapato e bolsa. Quem quer comprar um jeans que todo mundo tem? A mudança está aí, personalize-se também!
Há pessoas detentoras de uma coisa que chamo carinhosamente de “complexo de multi reflexos”, se assim posso dizer. Essas pessoas são facilmente reconhecidas nas ruas, nas esquinas, na vida alheia pelo simples fato de insaciável e voraz necessidade de não pertencer, de refletir suas potencialidades. Na verdade, essas pessoas ditas obscuras e complexas vêem na simplicidade inibidora a alienação para uma vida completa e para as múltiplas faces que a vida cotidiana pode ter. Cansadas de terem um alvo apenas, esse tipo de tribo, que graças à versatilidade do novo milênio, se encontram cada vez mais espalhadas por aí em pensadores, pessoas de todas as classes, ambulantes, estudantes, loucos e centrados: possibilidade é a palavra! Prateleiras, vitrines não são sinônimos de individualismo e sim a percepção, criatividade de ver e se encontrar num mundo mais real, no inconsciente, na vontade antes fraca e comedida de existir; de dar voz aquilo que sempre foi de necessidade do ser humano.
Essa gente dita estranha e exibicionista tem a capacidade de se transformar, se adaptar não só ao famoso e clichê mercado mercenário, precisado de doses diárias de dinheiro para se manter erguido. Existe também a necessidade de reinventar uma história, vida, valores e conceitos. Viver não é somente emparelhar a vida em caixas. Viver é fazer dessas caixas e arquivos um lugar mais divertido e desejável de visitar. E expressar-se é fazer da vida algo melhor, com maior significado e mais divertido para se existir. Seja Moda, livros, idéias, Teatro ou TV: Não se prenda às caixas, abra-as e deixe o seu ser ir mais além, vislumbre uma realidade sua e permita-se viver.