Carro novo?

Hoje o pai estava empolgado, pensando em comprar um carro novo. Quero que ele compre mesmo. Vai fazer bem para o ego dele andar em um carro novinho. Mas, mais uma vez, meus problemas de apego material vem à tona: tenho medo de pra onde o sofá marrom com almofadas verdes foi... Tenho medo se tão derrubando coca nele ou comida, ou se tem um gato arranhando ele. Tenho medo também de para onde os carros vão. Porque eles nos transportaram por uns 15 anos. Por toda minha vida praticamente. Isso é muito estranho. Deveríamos ter alguma gratidão por eles, que trabalharam tanto pela gente.

Sim, sinto pena. Porque não sei se eles serão bem tratados por aí. Não sei se alguém não vai mandá-los ao ferro velho sem nem pensar o quanto emocionalmente esses amigos valiam para mim.

Acho que sou uma sonhadora ingênua. Sonho com um mundo de paz, de igualdade, como toda jovem ingênua. Sonho com um mundo onde haverá um paraíso para onde os carros que carregaram famílias por anos e anos possam ir descansar, ganhando polimento e lavagens sempre que necessário, ficando longe do sol e mantendo o brilho. Sonho pelos dias que o óleo esteja novinho correndo em suas quase veias e artérias e eles se sintam felizes e capazes de sorrir.

O sorrir de um automóvel. Desde criança eu adorava olhar para os carros. Sempre foram uma paixão. Quando pequena, olhava para a carinha que as sinaleiras e os faróis formavam de acordo com a composição do veículo. Era muito divertido fazer isso e eu lembro que não gostava dos “carros bravos”, onde as sinaleiras faziam eles terem caras de malvadões.

Ver agora um carro ir para sabe Deus onde me deixa deprimida, despedaçada! Tenho medo que o maltratem. É meu amigo, que me ensinou a dirigir. Parceiro de tantas barbeiragens.

Estou chorando agora porque não sei se quero que você seja substituído.Tenho minhas dúvidas, amigo...