63 ANOS...

Ontem completei sessenta e três anos.

É um numero muito alto para ter de idade. Na verdade eu achava que demoraria muito mais para chegar esse dia, pelo menos o dobro do tempo que levou. Passou tudo tão rápido.

Sou ainda um aprendiz na arte de viver. Sinto-me imaturo, cometo erros banais, em determinadas situações emocionais ainda sou irresponsável.

Acho que viverei uma vida inteira e não aprenderei nunca as regras desse jogo.

Já a minha aparência demonstra claramente o peso de todos esses anos, diga-se de passagem, bem vividos graças a Deus. Não me reconheço mais, frente ao espelho sou outra pessoa, na minha cabeça eu tenho metade da idade que aparece na imagem refletida.

Infelizmente abandonei há muitos anos os esportes por não me achar mais em condições de praticá-los. Sempre fui apaixonado por tênis, joguei por muitos anos e parei por puro preconceito em relação à idade, e também, tenho que reconhecer, por desleixo.

Outro dia presenciei um senhor de 80 anos jogando uma partida de tênis com uma desenvoltura incrível para idade dele. Após a partida perguntei como se sentia, e ele respondeu:

- Como se tivesse 20 anos a menos.

Rapidamente fiz as contas e levei um susto danado porque percebi que esses vinte anos a menos dariam exatamente a minha idade atual, me senti um verdadeiro garotão. Conclui então, se voltasse a jogar teria mais 17 anos pela frente para praticar o esporte. É um tempo considerável.

Quando vivemos muito tempo com uma pessoa e envelhecemos juntos, com raríssimas exceções, a vida perde a motivação mais cedo, nos sentimos velhos antes do tempo. Acostumamos a fazer manhas e a receber manhas, a reclamar de tudo, e a receber reclamações de tudo, uma verdadeira chatice.

Há alguns anos eu convivo diariamente com jovens, e descobri que rejuvenescemos quando estamos próximos a eles. Uma nova ânsia de viver se ascende em nós. Ninguém reclama de dor, ninguém é ranzinza, esta sempre tudo bem, numa boa.

A alegria natural da juventude pela vida, e o espírito sempre voltado para um futuro repleto de esperanças, me influenciam de tal forma que muitas vezes esqueço completamente a minha idade cronológica, e estou lá no meio como se fosse um deles, fazendo planos para os próximos 30 anos. Eu adoro isso.

Evidentemente que eles têm outra concepção da vida do que eu na idade deles, completamente diferente, o mundo mudou, mas quando conseguimos interagir e compreende-los é uma aventura maravilhosa.

Uma experiência igualmente fantástica é quando fazemos uma reflexão sobre a vida dos nossos pais na juventude, como pensavam e se comportavam. Quando realizei essa pesquisa em relação aos meus, aprendi muito, agreguei conhecimentos extremamente importantes, principalmente culturais.

Apaixonei-me por Noel Rosa, Nelson Gonçalves, Edith Piaf, Cauby Peixoto, Frank Sinatra, Ives Montand.

Li os escritores que fizeram as suas cabeças, assisti aos filmes de sucesso da época, e tantos outros fatos que foram importantes para eles que pertenceram à geração do pós-guerra. Foi um aprendizado riquíssimo.

Conviver com outra geração e tentar pensar como ela sem nenhum preconceito, é uma emoção maravilhosa que vale a pena ser vivida, é o que fiz em relação aos meus pais e hoje com meus filhos.

Convivendo com jovens, ouço tanto falarem a respeito de amor e sexo que estou começando a entrar na deles, e pensando seriamente em arrumar novamente uma namorada.

Como escolher uma mulher ideal na minha idade?

Cheguei à conclusão que não tenho nada contra as mulheres mais jovens, ou mais velhas do que eu, mas a minha preferência recairia sobre a mulher da minha geração, sexo, drogas e rock and roll. Época da grande revolução cultural do mundo ocidental. Vivi o que de melhor se produziu nesse período, e não foi pouco. No meu caso, é bom destacar que drogas somente cigarro e whisky, eu só fui até ai e hoje não me arrependo, me dou por satisfeito.

Por certo se eu procurar, encontrarei a minha garota papo firme que o Roberto falou.

Eu sei que ela esta por ai me esperando para tomarmos Hi - Fi e Cuba Libre. Andaríamos depois pela Rua Augusta a bordo de um Bug Kadron sem capota, com motor Volkswagen mexido com duas mil cilindradas, carburação dupla, e pneus com talas de avião.

Quem sabe mais tarde daríamos um pulo até a boate Charade da Rua Pamplona e dançaríamos de rosto colado ao som de Lionel Richie, Marvin Gay e Barry White.

Eu sei que para os mais jovens tudo isso soa muito antigo, acontece que eu sou antigo.

Tudo bem... Talvez até um pouco nostálgico.

Agora, velho nunca.

Os sessenta e três anos jamais me intimidarão.

Duda Menfer
Enviado por Duda Menfer em 28/12/2010
Reeditado em 09/04/2019
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