JESUS É A MODA ETERNA.
Carlos Sena
Nesta época de tanta solidariedade expressa, a gente fica feliz porque tende a acreditar que a humanidade tem jeito. Claro que a esperança é a força dos homens de boa vontade, mas temos que nos penitenciar diante das nossas quedas, das nossas fragilidades em função das nossas crenças.
À vezes tenho medo do homem moderno. A contradição é que eu faço parte desse mundo que não é tanto moderno assim. Infelizmente a nossa modernidade tem sido medida em cima do progresso tecnológico e científico que alcançamos. Na medida do nosso medo, a gente se questiona como ator integrante desse progresso. A gente tem medo de andar nas ruas; tem medo de confiar no outro; tem medo de vender sem assinar o papel; tem medo de pagar sem receber; a gente tem medo de morrer na mão de médicos incompetentes; a gente tem medo de tudo, inclusive de namorar no portão.
Nessa época natalina a gente dá um freio no medo. Mesmo tendo provas ao nosso redor de que há muita falsidade nos “desejos de feliz natal e prospero ano novo”. Mesmo assim a gente se contagia com o clima de festa e solidariedade que se instala. O próprio papai Noel está vivo como nunca. Talvez mais vivo do que Jesus Cristo – a atração maior do período cristão mais comemorado no mundo. Essa invenção americana de papai Noel é mesmo uma invasão de sentimentos feitos em “laboratório” nos Estados Unidos. Imagino que há uma grande coincidência de estratégia mercadológica entre a coca-cola e o papai Noel, inclusive nas cores vermelha e preta de ambos. Pelo menos nós, latinos, não podemos ter a pecha de colonialistas, posto que o mundo inteiro hoje se entrega aos “sonhos” que o Noel instiga e proporciona à grande maioria de adultos e crianças.
Um dia eu fui, peremptoriamente, contra o Papai Noel na forma como é hoje. Tudo bem que ele não tem nada nosso, até porque aqui não tem neve, nem trenó, nem hienas. Mas aqui tem muita gente cujos sonhos foram roubados pelos corruptos da nação que, no tempo histórico concentraram riquezas e condenaram boa parte dos nossos cidadãos à miséria da fome, da seca, da doença e da morte. Dou a mão à palmatória. Papai Noel é interessante personagem também do nosso natal. Compete-nos transformá-lo de acordo com cada costume e com cada região. Uma árvore de natal de Mandacaru fica linda. O mandacaru é uma planta comuníssima no nordeste, enquanto no sul, o Pinheiro fica muito bem na foto. Assim por diante, a gente vai adequando, porque o amor e o sonho não podem deixar o povo sem ilusão, sem felicidade, mesmo que meio capenga, mesmo que meio relâmpago. Afinal, um cantor tido como brega já nos diz numa canção: “felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes”.
Não precisa fechar a porta para o natal. Ele entra por todos os buracos da nossa cabeça e da nossa casa. O que precisamos mesmo é que o natal seja mais forte em comemorações em dezembro. Mas em vivência, o ano todo. O natal é tal qual o evangelho de Jesus Cristo: tem que ser vivido, vivenciado no dia-a-dia. Assim, talvez um dia, a gente possa comemorar o natal sem essa fissura de trocar presentes sem sequer, entender que eles são simbólicos. Que foram inspirados nos presentes que os Reis Magos deram ao Menino Jesus na manjedoura: mirra, incenso e ouro!
Cartões de natal, telefonemas, aerogramas, e-mails, tudo vale a pena se a alma não for pequena. Porque da alma pequena só nos inspira o medo e a solidão – doença que mata mais do que qualquer câncer, pois tira do ser humano a essência de gente que Deus nos colocou quando soprou em nosso nariz o ar que aos nossos pulmões deu a vida.
Esta época serve, inclusive, para que muitos não pensem em Jesus como Pop Star, porque ele é a moda eterna de cada dia.