DOR E SOFRIMENTO, ATÉ QUANDO?
Eram 5h30min do dia 26 de dezembro de 2010. O telefone toca. Sobressaltada, uma jovem mãe se levanta e vai atender. Ao passar pelo quarto do filho percebe que ele ainda não chegou. Ela é tomada, então, de uma profunda angústia. Pega o fone, mas não consegue dizer uma palavra. Do outro lado da linha uma voz aflita indaga: é da casa do Felipe? Quem está falando, é sua mãe? Senhora, por favor, se acalme, mas aconteceu algo terrível com o Felipe. A mãe, já com o coração aos solavancos, pergunta quem está falando. Seu interlocutor apenas diz que é um amigo de Felipe e que está desesperado, sem saber o que fazer ou dizer naquele momento. Mesmo assim, ainda consegue passar a nota trágica. Senhora, desculpe, mas o Felipe morreu. Nós tentamos de tudo, mas ele não respondeu. Não sei o que aconteceu com ele. Ele foi socorrido mas já chegou ao hospital sem vida. Foi terrível senhora. Não sei o que lhe dizer. Ele ainda está no hospital. Por favor, mande alguém da família para tomar as providências. Eu e os meus amigos estamos chocados. Melhor, desesperados. Nunca imaginei que pudesse acontecer conosco uma tragédia como essa. Eu sinto muito minha senhora e me perdoe se não pude ajudar a seu filho. E desligou.
Gritos de dor e desespero despertaram todos de casa. Ninguém entendia o que estava acontecendo. Mas, pelo clamor daquela mãe e pela ausência do Felipe, não foi difícil imaginar. Certamente, algo de muito grave havia ocorrido. Felipe morreu. O desespero se instalou no seio daquela família.
Telefonemas são dados. Uma rede de sofrimento se espraia entre parentes e amigos. Todos são avisados do infausto acontecimento. A droga, impunemente, fez mais uma vítima. Mas, antes de questionar e de buscar culpados para a morte do Felipe, É hora das providências práticas. Os avós, mais calejados com a vida, tomam as primeiras providências. Outros, como que perdidos, procuram explicações para tamanha tragédia. Ele tinha somente 22 anos. Uma criança. Acabara de passar no vestibular para cursar direito. Era um menino brilhante. Muito inteligente e, sobretudo, sociável. Sociável até demais, pois não sabia escolher as suas companhias. E, por mais que se procurasse abrir-lhe os olhos, mais renitente se tornava.
Final de tarde. No cemitério os amigos chegam. Todos muito jovens. Em seus olhos percebia-se uma profunda angústia e um desalentado sofrimento. Uma perda irreparável, sem dúvida. Como parente e amigo da família, não pude deixar de comparecer aos atos fúnebres. Fui sozinho, mas fui. Como é difícil abraçar um avô, uma avó, um pai e u'a mãe numa hora dessas. Senti o coração contorcer-se em meu peito. Senti-me mal. Muito mal. Afinal, sou pai e avô. Dói muito ver o sofrimento de uma família que perde um ente querido, sobretudo um jovem de apenas 22 anos. É cruel. A dor da família e dos amigos era quase palpável. Era muito densa. Lágrimas grossas e pesadas escorriam pelas faces, entre gemidos e palavras desconexas. Era um quadro terrível. Desolador. Sem dúvida, foi a pior tarde de domingo que eu já tive. Senti-me travado. Como alguém que foi traspassado por uma lança e não se pode mover. Não sabia o que dizer. Aliás, qualquer pessoa de bom senso, não sabe o que dizer em um momento como esse. É melhor não dizer nada e deixar que o coração diga tudo. É melhor chorar em silêncio. O silêncio, nessa hora, fala mais alto.
Tomara, Felipe, que sua morte não tenha sido em vão. Tomara que seus amigos e companheiros reflitam sobre tudo o que aconteceu e passem dar mais valor à vida. Que busquem preencher seu vazio existencial no seio da família. Oxalá, os pais e mães ali presentes, reflitam sobre o verdadeiro sentido da vida e o que significa ter filhos. Adeus Felipe.
Luis Gentil
Dez/2010