Cantos bizantinos em São Paulo _ para os amigos do Recanto

Hoje entrei numa igreja por acaso, e em uma sincronia, acontecia um ritual de natal.

Os sacerdotes com roupas litúrgicas vermelhas, bordadas em dourado.

Vários sacerdotes, e os acólitos.

Sabem um turíbulo? Com o qual incensam lugares?

Passaram com o turíbulo em procissão, várias vezes,

vestidos com suntuosas vestes sacerdotais, cada qual

carregando um símbolo diferente e impactante,

cantando cantos bizantinos.

Todos homens, não havia nenhuma mulher... :)

Cristão bizantino-libanes, o patriarca falava em árabe e português.

Contou que o tempo não existe, só temos o presente, Deus É, e nós também somos, com Ele.

Podemos falar: Eu sou. I am.

(I am é por minha conta :)

O patriarca não falava do átrio, mas na própria nave, junto com os fieis (o público), na mesma altura, e não um degrau acima.

Próximo dos que ali estávamos.

Um homem vivo, bonito, que exalava alegria e força de vida,

numa roupa ainda mais suntuosa que a dos outros.

Contou de seus setenta anos, quando falava da não importância do tempo cronológico, que só serve para nos atormentar e nos apressar _ os ponteiros e o tiquetaque do relógio.

Cronos, o tempo linear, e Eidos, o tempo de Deus, o presente, o aqui-agora.

Num determinado momento olhou e disse:

_ Ah, uma criança ali.

E se dirigiu até um casal com um bebê bem pequeno, rescem-nascido.

Uma menina. Pediu licença aos pais e tomou-a nos braços,

e com ela no colo, continuou falando conosco, que ali estávamos.

A missa ritual celebrava o nascimento de Jesus.

Havia um homem numa cadeira de rodas, bem na frente do primeiro banco. O patriarca perguntou à mulher que se sentava atrás dele:

_ Ele está assim a muito tempo?

A mulher chorou e confirmou com a cabeça.

_ Desde que nasceu? Nasceu assim?

A mãe confirmou.

O patriarca passou a mão na cabeça do moço, e falou alguma coisa como aquilo não ter importância... estamos mesmo aqui de passagem,

a caminho da casa do Pai.

O rapaz na cadeira de rodas chorou algumas vezes durante a missa, mas naquele momento sorriu.

Chorei, não naquela hora, mas em alguns momentos, tão tocante a cerimônia, em seu impacto despretencioso, impacto estético.

Fiquei ali umas duas horas, eles não têm pressa.

Saí na hora da comunhão.

Como saí para andar, em casa não sabiam onde eu poderia estar...

mas não, foi uma desculpa minha comigo mesma, saí porque desconheço a ausência de pressa...

(Escrevo ao vivo, o texto se aprontando diante de vocês...)

Espero que eu e todos nós possamos experimentar a ausência de pressa em 2011.

Preciso voltar à esta igreja _ "Nossa Senhora do Paraíso", para compreender melhor os rituais de Constantinopla. O nome, penso, é porque fica no bairro do Paraíso, perto de minha casa.

Os cantos bizantinos, cantados ao vivo, por aqueles sacerdotes...

Voltarei lá, e quem sabe?

Um dia juntos, cada um de vocês e eu?

Feliz natal e um 2011 com as bençãos amorosas de um Deus de amor.

Amor é a única coisa que importa.