Intrusa
Hoje pela manhã fui tomada de perplexidade
quando vi uma estranha dentro da minha casa.
Era uma mulher misteriosa.
Tinha olheiras e pelo menos duas grandes
dobras em cada lado da cara.
As primeiras debaixo do olho,
formando bolsas ridículas,
e as segundas, fazendo cada uma de suas bochechas cair.
Vincos fundos desciam do nariz em direção ao queixo,
dando uma impressão de mau-humor tremendo.
A pele era de uma cor apagada e indefinida,
cheia de manchas.
As sobrancelhas eram peludas e inchadas.
Parece que a cabeça dessa mulher havia diminuído de tamanho,
e com a pele sobrada se poderia até revestir uma bola.
A mulher me dedicou um longo olhar de reprovação geral,
e senti que daqueles olhos nada,
absolutamente nada,
poderia escapar.
Ela pensa me conhecer em profundidade.
É de se admitir que essa mulher tem autoridade para falar
alguma coisa substancial a meu respeito,
assim como sobre muitas outras coisas.
Foi por isso que admirei essa intrusa.
E quanto a mim? Bom, eu ainda estou apegado à
superficialidade dos espelhos,
mas decididamente inclinada a aceitar
a minha nova inquilina.