Intrusa

Hoje pela manhã fui tomada de perplexidade

quando vi uma estranha dentro da minha casa.

Era uma mulher misteriosa.

Tinha olheiras e pelo menos duas grandes

dobras em cada lado da cara.

As primeiras debaixo do olho,

formando bolsas ridículas,

e as segundas, fazendo cada uma de suas bochechas cair.

Vincos fundos desciam do nariz em direção ao queixo,

dando uma impressão de mau-humor tremendo.

A pele era de uma cor apagada e indefinida,

cheia de manchas.

As sobrancelhas eram peludas e inchadas.

Parece que a cabeça dessa mulher havia diminuído de tamanho,

e com a pele sobrada se poderia até revestir uma bola.

A mulher me dedicou um longo olhar de reprovação geral,

e senti que daqueles olhos nada,

absolutamente nada,

poderia escapar.

Ela pensa me conhecer em profundidade.

É de se admitir que essa mulher tem autoridade para falar

alguma coisa substancial a meu respeito,

assim como sobre muitas outras coisas.

Foi por isso que admirei essa intrusa.

E quanto a mim? Bom, eu ainda estou apegado à

superficialidade dos espelhos,

mas decididamente inclinada a aceitar

a minha nova inquilina.

Lili Maciel
Enviado por Lili Maciel em 26/12/2010
Reeditado em 26/12/2010
Código do texto: T2692778