21-12
Faz tempo que a escrita e minha jornada dúbia e incerta não se cruzam. A vida tem cada dia mais se mostrado uma corda bamba e eu sou o malabarista equilibrista de um circo vazio; sem platéia ou espectadores: um circo sem expectativas.
As tardes mornas e corridas no Rio são cheias de beleza e ternura, mas quando se olha com olhar apurado, nota-se um vazio gélido e pesado picadeiro. Algo como espiar o mar numa tarde escaldante na Barra... Um monte de nada denso e arenoso misturado com chiado de mar.. Um deserto abarrotado de água e o quê mais? Nada...
O desejo de um ponto fixo às vezes leva qualquer um à loucura. Os piores loucos conheceram a loucura na mais inocente e pungente necessidade de ser e existir. Expressar-se claramente pode matar, ou nessa recessão voraz de voz e identidade, frustrar o mais equilibrado ser, fazendo-o um desses artistas de circo: palhaços- artistas sem rumo, sem mulher ou musa, buscando ajuda ou aviso na identidade de outrem. Maneira simples e fácil de existir nas veias e linhas alheias de um alguém de massa e conteúdo maçante.
Essa dita multiculturalidade é a redenção, a promessa de um mundo mais unido e coeso. De expressão complexa e completa... E como deixar coeso o que por si mesmo não se completa, cruza ou encaixa? O que fazer quando se tem um quebra-cabeça de uma peça só? Inventar uma maneira ética de existir ensaiado para dar certo? Um número de aplausos e anseios arranjados? E quando a existência em si não existe; maquiar ou despir a face do palhaço em sonhos ou elucubrações? Viver uma vida de espetáculos e atos é tão injusto.
Entender esse conjunto e quem o compõe é pior que qualquer felicidade pré-moldada. Muitas vezes a gente age de maneira real, direita e, na verdade, o outro quer uma vida mais colorida, recheada de marcações, clímax e verdades não tão verdadeiras. A necessidade de forjar uma realidade calculada e estudada me esfria a alma. Viver uma vida esquematizada é viver um sonho com data marcada de encerramento.
A vida hoje em dia se mostra demasiada repetitiva pra mim! Fujo dos ensaios e pautas na vida real! Embora, muitas vezes me encontro ressabiado, buscando um auxílio nas páginas amarelas de uma jornada estabelecida, sim, às vezes o esforço é em vão, pois o medo de existir existe.
William GO