MINHAS DÚVIDAS SOBRE PAPAI NOEL
Eu não acreditava em Papai Noel, acreditando. A gente nunca sabe... Dizem que o bom velhinho, apesar de toda aquela pança, entrava em nossa casa pela chaminé. Mas como, se lá em casa não havia chaminé? Meu pai nos mandava sair e ficar aguardando no cais em frente, enquanto Papai Noel depositava os presentes debaixo da pequena árvore enfeitada.
Comecei a desconfiar de que aquele negócio todo era balela quando, uma semana antes do Natal, descobri embrulhadinha no guarda-roupa de meu pai uma bola de futebol, de couro vermelhinho, a mesma que eu havia pedido ao bom velhinho.
Para intensificar minhas suspeitas, descobri que o velhinho de vermelho e barbas brancas que algumas vezes vinha em pessoa nos entregar os presentes tinha voz parecida com a da filha de nosso vizinho, seu Tomé, embora tentasse disfarçá-la, procurando falar grosso. Mesmo assim, eu sentia certo receio, pois o desgramado sabia todas as travessuras que eu havia feito. Pensei em dar um puxão na sua barba para confirmar; mas, e se fosse mesmo Papai Noel? “Perigava” ele não atender mais minha lista de pedidos. Não sei por que motivo, o velhinho só me trazia uma pequena parte dela. Pedia um carro de verdade e recebia um caminhãozinho de madeira.
Desconfiei também de um sujeito barbudo que passava sempre em minha rua, mais velho do que a primeira calcinha da Dercy Gonçalves. Um dia resolvi abordá-lo:
– O senhor é que é o Papai Noel?
Ele me olhou carrancudo:
– Menino, vai te bugiá!
Não preciso dizer que a terrível dúvida continuou. Mas era capaz de Papai Noel existir mesmo, pois até os comerciantes acreditavam nele, principalmente seu Ademar Branco, que tinha uma loja de brinquedos.
Fosse quem fosse o Papai Noel, a gente costumava ganhar bons presentes. Bolas, jogos, futebol de botão, almanaques de gibi de fim de ano. Armas de brinquedo, a gente ganhava em todo Natal. Eu tinha em casa um verdadeiro arsenal, de dar inveja a muito traficante. Era um tempo de culto ao velho faroeste. Nossa principal brincadeira era o “camone”, corruptela de “came on”, expressão dita pelo mocinho com a arma apontada para seus inimigos.
Na manhã seguinte, não se podia faltar à missa solene na Igreja Matriz. Tinha vontade de ficar em casa, curtindo meus novos brinquedos, mas Deus que me livrasse se a Madre Superiora do colégio não me visse na igreja.
Hoje, sei da simples e boa verdade: Papai Noel somos nós, pais e avós.