Na hora de dizer: Tchau!


     Meu Rèveillon, já decidi, será na companhia de um bom vinho tinto seco. E aqui aproveito para, mais uma vez, reverenciar a memória do velho Noé que, segundo o Gênesis, fez o primeiro vinho do mundo.
     Mas, ainda não sei se será um vinho argentino ou um vinho chileno reservado. De repente opto por um vinho gaúcho ou por um vinho são-franciscano.
     Isso mesmo. Creio que pouca gente sabe que as vinículas de Petrolina e Juazeiro da Bahia - duas prósperas e simpáticas cidades ribeirinhas do Velho Chico - estão produzindo um vinho da melhor qualidade.
     Tenho informações seguras de que os vinhos das barrancas nordestinas do São Francisco estão cada vez mais conquistando o mercado internacional. 
     Uvas de todas as qualidades - Cabernet San vingnon, Malbec, Merlot, etc., etc. - são responsáveis por vinhos de irrepreensível sabor.
     É inacreditável como o sertão da Bahia e de Pernambuco, onde a natureza nem é lá tão pródiga, foi invadido por extensos e fecundos parreirais.
     Parece mentira, quando se sabe que, no Brasil, a rigor, só nas terras do Rio Grande (serra gaúcha) isso seria possível.
     É mais um milagre do grande rio, cuja ação benfazeja é descrita, com precisão e clareza, pelo saudoso jornalista Carlos Lacerda, no seu livro Desafio e promessa - O Rio São Francisco, que deveria ser reeditado.
     Queria que soubessem, que não sou eu - um cearense da moléstia - quem está garantindo pela excelsitude dos vinhos são-franciscanos.
     Até porque, não sou esse admirador todo da bebida do deus Dionísio. Embora, embora, tenha ouvido sérios rumores de que o vinho é um franco e indisfarçável instigador de saudáveis e comprometedoras intimidades...
     Bebo algumas taças, muito mais estimulado por um repentino pedantismo do que propriamente por amor a essa milenar bebida, por Deus abençoada, desde as Bodas de Caná.
     Para falar com tanta ênfase sobre os vinhos são-franciscanos, louvo-me no que atestam os enólogos e enófilos de plantão, e que me parecem, todos, criteriosos em suas avaliações.
     Vejam que interessante: até os sommeliers dos restaurantes e cantinas, que frequento com relativa assiduidade, me têm falado bem dos vinhos do Vale do Velho Chico.
     Portanto, é possível que, de repente, na passagem do ano, troque um vinho gaúcho, um chileno, um argentino, um californiano, um francês, um Periquita português, por um Botticelli fabricado, cá, no nordeste.
     Uma coisa, porém, é certa: meu Rèveillon será na agradável companhia de um bom vinho, na tranquilidade paradisíaca da minha varanda, aberta para o mar e para o céu...
     Vou tentar dar uma de Bilac, ou seja, conversar com as estrelas, se a lua, protagonista do último eclipse, deixar, posto que, num progressivo quarto minguante ela se encontra.
     Às estrelas, tenho muito o que lhes contar, confiante, claro, na sinceridade do seu silêncio sideral...
     Rejeitei convites para acompanhar a passagem do ano nos badalados shows das musas Ivete, Claudia Leitte e da querida Daniela.
     É muito barulho para quem - e este é rigorosamente o meu caso - para quem, redigo, prefere receber o Ano-Novo ruminando, de preferência no mais absoluto recolhimento, os bons momentos vividos no Ano-Velho, na hora de lhe dizer: Tchau!!!
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 26/12/2010
Reeditado em 17/12/2020
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