FESTA DE MULHERZINHAS NO DIA DE NATAL
                               (ou HENRIQUETA)

 
Henriqueta recebeu a filha e uma amiga no Natal, para comemorarem o aniversário de Jesus.   A amiga de nome Jana, uma jovem animada e sábia, como bem comentou foi uma “festa de mulherzinhas”, ou seja, só três mulheres conversando sem parar, tantos assuntos interessantes, numa reunião de três cabeças inteligentes, livres e à vontade, curtindo.

A filha Cléo foi fantástica, fez tudo: trouxe as compras necessárias para a cozinha e para a árvore de Natal. Fez uma farofa de castanhas cozidas maravilhosa. Um bacalhau à Gomes de Sá tirada do livro da Helena Sangirard, com batatas e azeite com vinagre e pimenta, um prato tipo delícia dos deuses. E não confiando no bacalhau, fez um lombinho recheado de lingüiça calabresa e deixou assando, enquanto os corredores do prédio eram invadidos pelos saborosos cheiros exalados e tomando os narizes de todo mundo.

A mesa posta e tudo servido maravilhosamente parecia mesmo ser inacreditáveis ter aprontado tudo a tempo, bom e belo. Para completar a mesa do trio de deusas da noite, surgiu uma garrafa de champanhe cor de rosa erguendo brinde ao aniversário de nascimento do Menino Jesus, e mais brindes de realizações e felicidades.
Rolando muita alegria e comunicação.

Uma festa despretensiosa veio a se constituir de um brilho extraordinário para as três.

 Elas existiam.
 
Elas eram à noite e o prazer de viver, e de compartilhar o momento.

O resto era complemento em palavras, uma noite memorável! De palavras verdadeiras!

 E aquele líquido rosado espumante rolando pelas três goelas, inebriadas de prazer e alegria aprimorava a espontaneidade das três, todas soltando a língua. Os segredos disfarçados foram se soltando encontrando refúgio naquele encontro insólito.

Henriqueta falou sem alterar o tom de voz _ “tenho um namorado, e ele é bonito...”. Cléo e Jana pararam como se estivessem no ar, imóveis, por inesperada tal revelação. Estímulo para saber mais, Cléo, a filha até comentou que já ouvira sua voz pelo telefone. A mãe continuou “vou mostrar fotos dele”... E começaram a planejar, a dar sugestões, e Henriqueta se animou e passou para as jovens os seus sonhos e idéias em construção, que queria ser amada e desconfiava já estar amando; e que à noite se deitava e pensava nele se sentindo feliz...

Revelações puras e íntimas. Como uma transformação da noite de Natal ser também de confidências e compreensões.

E brinde renovado em espumante cor de rosa até a garrafa esvaziar e se encher de esperanças e amores.

A esta altura Henriqueta resolver se recolher e deixou as jovens prosseguirem seus brindes com cerveja geladinha, já na reserva no congelador. A festa rolou até altas horas em conversas, confidências, risos e alegrias; multiplicaram-se as gargalhadas e a confraternização.

Henriqueta já não as ouvia mais, imersa no sono e nos bons sonhos.