Crônicas do Zé - Natal
Natal das crianças, da noite de luz, da estrela guia e do menino Jesus! Natal das lojas cheias, das árvores plásticas iluminadas, dos “Papais Noéis” mal caracterizados, das músicas chatas e das ceias em família. Falando de ceias em família, lá na casa do Zé não é diferente de boa parte das ceias natalinas. Reúne aquela parentada toda, coisa que o Zé (bom antissocial que é) não gosta nem um pouco.
Antes da ceia começam os preparativos, retiram a árvore empoeirada, pisca-piscas, bolas, guirlandas e até aquele Papai Noel que rebola de cima do guarda-roupa. Logo depois começam os telefonemas entre tias, primos, etc. Tudo para decidir qual prato natalino cada um deverá levar para ceia. Tudo decido, é chegada a hora de sortear o amigo oculto. Zé é um daqueles que pensa que o amigo oculto já é uma forma de pré-anunciar um “infeliz natal”, pois ele sabe que nunca vai ganhar algo que realmente seja útil. Amigo oculto na família do Zé tem coisas curiosas de serem comentadas, você sabe que tipo de presente determinado parente compra, tem uns que só comprar carteiras, outros CD’s, outros roupas, etc. Fora isso você percebe que tem um parente com pouca grana quando sugerem um amigo oculto de chocolate.
São tirados os nomes... Pratos definidos... Agora é só esperar o grande dia? Negativo, agora é ir às compras, que para o Zé é a pior parte do natal, principalmente porque o coitado tirou aquela prima que ele não gosta. Comprar presente para mulher já é uma tarefa difícil para o Zé, para uma que ele não tem afinidade, pior ainda. Zé chega numa loja de departamentos completamente lotada:
_ “Bom dia senhor, no que posso ajudar?”.
_ “Preciso de um presente para uma prima”.
_ “Ok senhor, do que a sua prima gosta?”.
_ “Não faço a menor idéia, presente de amigo oculto, sabe como é, né?”.
Falar que não sabe o que comprar para um vendedor é o mesmo que falar: “Me venda aquele produto encalhado”. E para Zé que não está com nenhuma paciência de escolher nada, qualquer coisa que aquela vendedora falar que é bonito, é lei.
_ “Senhor, temos essa luminária new age. Toda fashion, sofisticada e contemporânea. Toda mulher fashion, sofisticada e contemporânea como esta luminária, gostaria de ganhar uma”.
_ “É, acho que vou levar isso. (Fala o Zé completamente perdido no meio de tantos adjetivos)”.
_ “Fez uma boa escolha senhor, agora é só passar no caixa. Tenha um feliz natal”.
_ “Obrigado, feliz natal”.
Zé pega aquela fila quilométrica no caixa, vai para casa e agora é só esperar o “grande” dia. Enquanto o dia não chega, a família do Zé assiste os magníficos especiais de fim de ano.
Então é chegado o grande dia! Priminhos correndo pela sala, tias fofocando na cozinha, tios falando sobre futebol e o Zé... Bem, o Zé é um ser perdido no meio da festa. Que assiste calado todo o espetáculo, vendo a prima bêbada falando da vida sexual e escutando as tias falando: “Como ele cresceu, deve ta namorador”. É chegada à meia-noite, todos se fartam na ceia e contam histórias vergonhosas sobre os familiares. Depois disso, enfim o amigo oculto. Começam todas aquelas pistas óbvias, eis que uma tia toma a voz:
_ “Meu amigo oculto é um sujeito calaaaado e...”.
_ “É o Zé (Um coro grita antes mesmo de ela terminar)”.
_ “Acertaaaaram!”.
Zé abre o presente e vê uma gravata (Como ele imaginara, ganhou um presente inútil), da um sorriso forçado e toma a voz:
_ “Bem, minha amiga oculta é... É... É... Ah, é ela aqui!”.
Todos olham com cara de “O que foi isso?”. A prima abre o presente, faz uma festa dizendo que adorou e recontinua a brincadeira. Fim de festa, todos vão embora, Zé está sentado no sofá aliviado pela casa vazia e sua mãe diz:
_ “Adorei o dia hoje, é bom saber que no reveillon todo mundo estará aqui novamente!”.
Zé faz cara de triste e se prepara psicologicamente para o “segundo round”.