Um momento feliz
Havia música. Havia comida, havia muita comida: churrasco, mesa de frutas e morangos com chocolate, sobremesas e castanhas. Entre as comidas, havia abraços e desejos de um natal feliz. Entre os abraços, havia conhecidos e desconhecidos, alguns, quase conhecidos. Ainda assim, todos eles trocavam abraços e, naqueles instantes de corações vizinhos, desejavam a mesma coisa. Parecia um pacto inconsciente: você deseja a minha felicidade que desejo a sua, assim seremos todos felizes.
Mal sabiam que desejos não costumam se realizar. Continuavam se abraçando e desejando, desejando, desejando. Não imaginavam o que aconteceria depois daquele natal, mas desejavam. Uma tia engordaria 20 quilos no próximo ano e a prima arrumaria um namorado cafajeste. Outra prima teria seu primeiro filho antes de se casar e o avô pararia de fumar. O sobrinho daria seu primeiro beijo em uma menina e a irmã passaria no vestibular, finalmente. Havia uma tia que largaria o marido (ninguém sabia, mas ele tinha outra família) e um primo que se mudaria para Portugal. Duas ou três pessoas morreriam, era seu último natal, mas no próximo ano, haveria mais cinco ou seis que não estavam nesse. Enfim, felizes ou não, os desejos não costumam se realizar.
Na verdade, isso não interessa. O que importa é que, no momento de um abraço, sejamos felizes, é importante que cada momento seja feliz, sem se preocupar com o resto da vida ou com o próximo ano. Uma vida é um emaranhado de momentos desconhecidos que, aos poucos, se revelam. Assim, se cada um desses momentos tiver sido feliz ou se, pelo menos, a maioria deles tiver sido feliz, teremos sido felizes. Então, não desejo uma vida feliz, mas aconselho a todos que tenham o máximo de momentos felizes que conseguirem.