O NATAL É UMA FESTA TRISTE!
O NATAL É UMA FESTA TRISTE!
As noites da véspera do Natal, quando verdadeiramente se comemora o nascimento de Jesus, é uma ocasião revestida de sentimentos opostos: alegria e tristeza.
A alegria vem na hora de dar e receber presentes, confraternizar com os entes queridos, a hora da ceia e o álcool representado em vinhos e cervejas.
A nostalgia se instala naqueles que já perderam seus pais e não conseguem esquecer a infância, quando iam dormir cedo na esperança de que o ‘Papai Noel’ aparecesse e colocasse o presente que pediu sobre ou junto ao seu sapato. Uns que sequer conheceram os pais ou conheceram mãe ou pai, ou simplesmente ficaram órfãos ainda pequenos, outros que cresceram em orfanatos, sem família e outros que se perderam pelos caminhos da vida. A verdade é uma só: o Natal é uma festa nostálgica, mesmo em se comemorando o nascimento de Jesus.
O Natal consegue ser uma festa que se equipara à sexta-feira santa dos nossos tempos de meninos. Tudo o que falo, entretanto, diz respeito aos mais velhos, não às crianças que, embaladas pela chegada do ‘Papai Noel’, pouco estão se lixando para o fato de que ‘a vaca tussa’! Assim, o Natal é uma festa diferente da passagem para o Ano Novo, quando as esperanças se renovam, novos planos são arquitetados, namoros, noivados e casamentos são contratados, viagens e entretenimentos são planejados e até realizados durante o reveillon.
Lembro-me bem da figura da minha mãe e os cuidados para que todos os filhos recebessem seu presente de Natal, independente da roupa e sapatos novos que o pai nos dava a todos, na semana anterior da festa: todos tínhamos que estar bem vestidos para comemorar o Natal. Naquele tempo não comprávamos roupas prontas. Cada família tinha seu alfaiate e sua costureira, para atenderem a demanda de vestuário dos pais, dos filhos e dos empregados da casa. Era realmente uma festa diferente da atual, numa época em que não se ligava o rádio para não atrapalhar os festejos; no máximo, uma música na vitrola, em baixo volume, servia como fundo musical para a família. Dá saudade, a ceia natalina servida à meia-noite, a mesa posta o tempo todo com sem número de iguarias, desde a rabanada, a doces maravilhosos, alguns poucos visitantes que eram, na maioria, parentes ou amigos muito íntimos. E a festa parava à meia-noite para que as crianças fossem dormir e esperar o bom velhinho.
Sei que a muitas crianças não foi dado o direito de sonhar com o Papai Noel. Sempre houve pobreza, classe média e riqueza. Entretanto, a solidariedade humana aflorava nestas ocasiões. De qualquer sorte, imagine, caro leitor, alguém que nunca teve uma família, compreender e festejar com espírito natalino o nascimento do menino Jesus.
Para os que, como eu, tiveram uma família bem estruturada, o Natal é uma festa triste. Pela falta do meu pai, da minha mãe, da velhinha Loló que ajudou minha mãe a nos criar, dos nossos irmãos e irmãs que já se foram, dos parentes mais próximos, dos amigos de infância que nos deixaram e dos amigos que fomos encontrando pela vida e que também nos deixaram neste vazio do Natal, que é o somatório de todas estas perdas. Por isso, considero o Natal uma festa muito triste e de aflorar a saudade.
Mesmo assim, com tanta nostalgia, desejo a toda a humanidade um Feliz Natal!